Líderes dos direitos civis e família King assinalam o Dia de Martin Luther King com um apelo especial à ação

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Estátua de Martin Luther King com o Washington Monument ao fundo, Washington

O Presidente eleito Donald Trump toma posse nesta segunda-feira, 20, na rotunda do Capitólio, em frente a um busto do reverendo Martin Luther King Jr. no feriado federal que comemora o legado dele como líder da luta pelos "direitos cívicos".

Eventos em homenagem a Martin Luther King Jr. que defende a visão dele para uma sociedade justa têm lugar em todo o país, enquanto muitos no país observam a transferência pacífica de poder na capital.

Muitos líderes, incluindo a própria família de King,veem a justaposição como um contraste pungente e uma hipótese de reorientar o trabalho de promoção dos direitos civis numa nova era política.

"Fico feliz por ter ocorrido nesse dia porque dá aos Estados Unidos da América e ao mundo o contraste em imagens. É esse o caminho que se quer seguir — ou é esse o caminho que se quer seguir?", disse a Rev. Bernice King, filha mais nova de King e presidente do King Center.

"Não é um dia em que ele possa ser a estrela, o que adora ser", disse a filha de King sobre Trump.

"Ele tem de lidar com esse legado nesse dia, independentemente da forma como o gere e lida com isso na sua apresentação. Espero que aqueles que o rodeiam o estejam a aconselhar bem a honrar o dia apropriadamente no seu discurso", concluiu Bernice King.

Esta é a terceira vez, nos quase 40 anos desde que o feriado federal tornou-se lei, que coincide com uma tomada de posse presidencial.

Os presidentes Bill Clinton e Barack Obama também tomaram posse para os seus segundos mandatos neste feriado.

Ambos elogiaram King nos seus comentários, mas ainda não se sabe se e como Trump reconhecerá o dia.

"Será que ele transmitirá uma mensagem de unidade e uma Presidência para todos, ou continuará a concentrar-se na sua base e em algumas das políticas divisórias que defendeu", pergunta Marc Morial, presidente do grupo de direitos civis National Urban League.

Morial acrescentou que a tomada de posse de Trump no dia de Martin Luther King representa "uma contradição de valores".

Muitos líderes dos direitos civis passarão o dia a celebrar o legado de King após uma semana de organização pública e privada, discursos e estratégias para responder à agenda do novo governo.

"Estes são os melhores e os piores momentos", disse Derrick Johnson, presidente da NAACP, uma organização cujos membros orientaram, colaboraram e entraram em conflito com Martin Luther King durante o Movimento dos Direitos Civis.

"A nossa missão não muda. O nosso trabalho é fazer com que a democracia funcione para todos, para garantir que a proteção igual é garantida ao abrigo da lei", disse Johnson, acrescentando que o grupo "não quer presumir" que a Administração Trump não possa ser um parceiro no avanço dos direitos civis ou da justiça racial".

Na quarta-feira, Johnson e outros líderes dos direitos civis reuniram-se com membros do Congressional Black Caucus no Capitólio para discutir como trabalhar com a Administração Trump.

No mesmo dia, a National Action Network, um grupo de defesa dos direitos civis fundado pelo Rev. Al Sharpton, organizou um pequeno-almoço no qual a vice-presidente Kamala Harris pediu aos participantes que se mantivessem motivados.

"A nossa é uma viagem, seja qual for o resultado de qualquer momento em particular, nunca poderemos ser derrotados. O nosso espírito nunca poderá ser derrotado, porque quando isso acontece, não venceremos", disse Harris.

Martin Luther King III, filho mais velho do falecido King, orou com Harris no palco.

Muitos defensores da justiça racial estão prontos para organizar manifestações, vigílias e eventos de serviço comunitário para assinalar o feriado e preparar-se para o que consideram ser uma administração adversária.