Líder de uma mesquita decapitado em novo ataque no distrito moçambicano de Macomia

Macomia, Cabo Delgado, Moçambique

Quatro pessoas foram decapitadas em vários ataques na região

O líder de uma mesquita foi decapitado num novo ataque à aldeia de Chicomo, na província de Cabo Delgado, o segundo que ocorre em menos de 72 horas após o grupo insurgente, ligado ao Estado Islâmico, ter incendiado e saqueado a mesma aldeia, além de ter decapitado outras três pessoas, segundo novos dados relatados à VOA por várias fontes locais.

O grupo localmente conhecido por al-Shaabab invadiu a aldeia no sábado, 21, incendiou várias palhotas e saqueou produtos agrícolas.

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Líder de uma mesquita decapitado em novo ataque no distrito moçambicano de Macomia - 2:45

Na terça-feira, 24, o grupo voltou a atacar a aldeia, quando interpelou o líder de uma mesquita local, que também assumia a pasta de secretário local, tendo decapitado e esquartejado o corpo, disse uma fonte local, citando um sobrevivente.

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Mais três pessoas foram decapitadas, segundo as mesmas fontes.

O líder religioso e outros moradores tinham regressado à aldeia para ver os estragos causados pelo ataque de sábado, após uma ronda pela zona da tropa conjunta Moçambique e SAMIN, quando foram surpreendidos pelos atacantes.

Alguns conseguiram escapar.

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“O ataque, além do que foi reportado ao longo do fim de semana e que aconteceu na zona de Nkoe, Chicomo e nas baixas de Nguida, ontem (terça-feira) também houve outro na aldeia Chicomo, de novo, e lá decapitaram o líder da aldeia”, precisou em declarações à VOA um morador local.

“Os insurgentes ainda estão naquela zona, ainda estão naquela mata ali, e a situação não é das melhores aqui pelo menos”, acrescentou.

Mais ataques

A semana passada foi dominada por uma série de ataques de grupos insurgentes nos distritos de Nangade e Macomia, segundo escreve na rede social Twitter, a especialista em análise de dados de conflitos armados, Jasmine Opperman, que acompanha o conflito em Cabo Delgado.

Ela publica uma foto, referindo ser “a terceira reivindicação de crédito do IS-Moçambique” e que destaca a “morte de três cristãos em Nguida”, nos campos agrícolas onde foram decapitadas quatro pessoas a 21 de Maio último.

Refira-se que o comandante da Polícia em Cabo Delgado, Vicente Chicote, afirmou a 9 de Maio que o grupo de insurgentes, que ataca a província desde 2017, estava “fragilizado” e praticava “ataques esporádicos para pilhagem de alimentos”, e que o mesmo estava a ser combatido em dois redutos, Macomia e Nangade.

Até agora, a Polícia em Pemba não respondeu ao pedido de um comentário a VOA.

Resposta das tropas do Ruanda e da SADC

Nestes dois distritos, onde os insurgentes ainda demonstram certa musculatura, segundo esclareceu o chefe da Missão da Tropa da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique, Mpho Molomo, combatem no terreno as forças da Tanzânia e Lesotho (Nangade) e África do Sul (Macomia).

Molomo, que falava durante uma palestra sobre a cooperação internacional para o combate ao extremismo violento em Cabo Delgado, na Universidade Joaquim Chissano, em Maputo, afirmou que as tropas do Ruanda expandiram sua área de acção para Nangade e Macomia, numa tentativa de reverter a incapacidade da força estrangeira no terreno.

Já a análise semanal (16-22 de Maio de 2022) do projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED), avança que os insurgentes invadiram Macomia, decapitaram civis, enquanto outros se renderam por falta de comida. Igualmente civis voltam provisoriamente ao norte de Macomia, apesar da ameaça de ataques.

A insurreição, com inspiração radical islâmica, irrompeu em 2017, deixando pelo menos 4.000 segundo a ACLED e cerca de 850.000 desalojados.