Líbano: Israel rejeita cessar-fogo

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    AFP

Funeral de um pai, uma mãe e o seu filho, mortos durante um ataque israelita na quarta-feira, em Joun

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, afirmou na quinta-feira, 26, que não haverá cessar-fogo com o Hezbollah do Líbano, depois de os EUA e os seus aliados terem proposto uma paragem de 21 dias nos combates.

“Não haverá cessar-fogo no norte do país. Continuaremos a lutar contra a organização terrorista Hezbollah com todas as nossas forças até à vitória e ao regresso em segurança dos residentes do norte às suas casas”, afirmou Katz numa publicação na rede social X, referindo-se às dezenas de milhares de pessoas deslocadas.

Num comunicado, as forças armadas israelitas afirmaram estar a efetuar novos ataques contra alvos do Hezbollah no Líbano.

Depois de uma intensa sequência diplomática na ONU, a França e os Estados Unidos, acompanhados por países árabes e europeus, haviam apelado na quarta-feira a um cessar-fogo temporário de 21 dias entre Israel e o Hezbollah, para evitar que a situação fique fora de controlo.

“É tempo de chegar a um acordo na fronteira israelo-libanesa que garanta a segurança e permita que os civis regressem às suas casas”, escreveram o Presidente dos EUA, Joe Biden, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, numa declaração conjunta, emitida após a sua reunião à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.

O apelo conjunto a um cessar-fogo temporário é apoiado também pela UE, Austrália, Canadá, Alemanha, Itália, Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar.

“Apelamos a um cessar-fogo imediato de 21 dias na fronteira entre o Líbano e Israel para dar uma oportunidade à diplomacia” em relação à situação no Líbano e em Gaza, afirmam todos estes países numa declaração conjunta, apelando a ‘todas as partes, incluindo os governos de Israel e do Líbano’ para que a subscrevam.

Este apelo conjunto constitui um “avanço importante”, comentou um alto funcionário norte-americano, que espera que também ajude a “estimular” as conversações para uma trégua e a libertação dos reféns na Faixa de Gaza.

"Possível” guerra total

A iniciativa franco-americana surge no final de intensos debates à margem da Assembleia Geral da ONU.

Na quarta-feira, Joe Biden alertou para a possibilidade de uma “guerra em grande escala” no Médio Oriente, enquanto Emmanuel Macron apelou “energicamente a Israel para parar a escalada no Líbano e ao Hezbollah para parar de disparar”.

Israel não pode, “sem consequências, alargar as suas operações ao Líbano”, disse o Presidente francês, acrescentando: “Não pode haver uma guerra no Líbano”, um país onde a França tem muitos cidadãos.

Na quarta-feira, o exército israelita afirmou estar a preparar “uma possível entrada” no Líbano para atacar o Hezbollah, contra o qual a sua força aérea está a realizar novos ataques mortais, após a interceção de um míssil disparado contra Telavive.

Conflito regional

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alarmou-se: “O inferno está a rebentar no Líbano”.

O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi, advertiu que o Médio Oriente estava “à beira da catástrofe total” e prometeu o apoio de Teerão ao Líbano “por todos os meios”.

Por seu lado, o embaixador israelita Danny Danon afirmou que o seu país preferia recorrer à via diplomática para garantir a segurança da sua fronteira norte com o Líbano, mas que utilizaria “todos os meios” à sua disposição se a diplomacia falhasse.

Os diplomatas estão a trabalhar arduamente para encontrar uma saída, tendo como pano de fundo um cessar-fogo difícil de alcançar na Faixa de Gaza.

“Estamos a trabalhar incansavelmente com os nossos parceiros para evitar uma guerra total e avançar para um processo diplomático que permita que os israelitas e os libaneses regressem a casa”, afirmou o Secretário de Estado Antony Blinken.

No entanto, em privado, os diplomatas sublinham a dificuldade destas discussões e a incerteza dos resultados.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, foi questionado após a reunião do Conselho de Segurança sobre a possibilidade de um cessar-fogo em breve. O primeiro-ministro libanês alertou para um impacto que poderá ir muito além do Líbano e do Médio Oriente.

Guerra sem fim

Numerosos líderes árabes e muçulmanos, mas não só, acusaram Israel nesta reunião diplomática anual, multiplicando as condenações ao primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, acusado pelo Presidente turco Recep Tayyip Erdogan de “arrastar toda a região para a guerra”.

E as saídas para a crise são estreitas.

Washington sempre considerou que um cessar-fogo em Gaza, acompanhado da libertação dos reféns do Hamas, era a melhor forma de favorecer uma solução diplomática entre Israel e o Hezbollah.

Tanto mais que o grupo xiita pró-iraniano afirma estar a agir em apoio do grupo palestiniano sunita Hamas em Gaza, que lançou um ataque mortal sem precedentes no sul de Israel em 7 de outubro.

Apoiante acérrimo de Israel, Joe Biden tem-se recusado, até agora, a usar a influência das armas fornecidas pelos EUA, com exceção de uma entrega de bombas em maio. E parece improvável uma mudança de estratégia no período que antecede as eleições presidenciais de 5 de novembro.