A falta de vias alternativas para o escoamento do trânsito em Luanda tem sido a razão para o aumento do congestionamento e a mobilidade deficitária dentro da capital angolana.
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Aliado ao fenómeno “engarrafamento” está também o aumento da sinistralidade rodoviária resultante do desrespeito pelo código de estrada e das más condições das vias de cirulação terrestre.
A Direcção Nacional de Viação e Trânsito reconhece que grande parte das estradas não têm iluminação, nem uma sinilização adequada, para além de muitos veicúlos automóveis em circulação apresentarem mau estado técnico.
O Especialista em Trânsito e Mobilidade Urbana, Vasco da Gama, refere que o congestionamento na metrópole angolana deve-se ao facto da oferta de estradas- concebidas para um milhão de habitantes- não corresponder a actual demanda de automóveis.
Se há 40 anos a cidade acolhia um milhão de habitantes e menos da metada destes possuía um meio rolante, hoje são cerca de seis milhões de habitantes e mais de dois milhões de veículos a circularem pelas diferentes artérias do centro político e administrativo de Angola.
O especialista defende a construção de vias terceárias que deverão servir de alternativa para tráfego e a mobilidade em Luanda, sobretudo na ligação com o município de Viana-localizado a sudeste da capital.
O surgimento de novas cidades habitacionais sem um plano directório e de gestão urbana aliada a não descentralização dos serviços administrativos essencias também é dos factores que influaciam o exponencial aumento do congestionamento na urbe.
Recentemente o Governo Provincial e a Unidade de Trânsito de Luanda tentaram ensaiar o projecto denominado Trânsito Reversível, que consistia em alterar o trânsito na estrada de Catete para sua circulação nos dois sentidos das 5 às 9 da amanhã (para sair de Viana ao centro da cidade) e das 15 às 19 horas (do centro para Viana).
O modelo não chegou a ser ensaiado por falta de um estudo mais acabado em relação as vias rodoviárias alternativas. Alguns dias antes da sua implementação a Polícia Nacional justificou-se alegando a necessidade de construção e reabilitação de mais vias terrestres antes da efectivação do projecto.
Na equação congestionamento, infraestruturas rodoviárias e mobilidade, os taxistas devem ser tidos em conta na planificação das vias, já que em muitos casos são estes os causadores dos quilómetros de filas de trânsito e as longas horas de afunilamento das estradas.
Vaso da Gama sugere a criação de paragens espécificas para os taxistas e a construção de vias de cirulação exclusivas para as viaturas ao serviço de táxi.
Se o congestionamento em Luanda é resultante da falta de disciplina dos automobilistas, os acidentes rodoviários também são motivados pela mesma causa.
Diariamente morrem vítimas de sinistralidade nas estradas de Angola, 10 a 13 pessoaas, sendo esta considerada actualmente a segunda maior causa de mortes no país, depois da malária.
Vasco da Gama, jornalista e especialista em Trânsito e Mobilidade Urbana, defende que o Estado deve fazer sentir a sua mão pesada para pôr fim a anarquia rodoviária caracterizada pelo cometimento de diversas infracções ao código de estrada.
Mão pesada também é defendida pelo antigo instrutor de condução José Magalhães. Mas, o também jornalista refere que a retenção da carta e o consequente pagamento de caução, sem um aconselhamento ao automobilista não resolve o problema.
O Inspector-Chefe Hélder Matari, da Direcção Provincial de Viação e Trânsito chama atenção para o facto da sinalização e instalação de postes de iluminação pública nas estradas não ser da competência da Polícia Nacional.
“É necessário que saibam separar o papel da polícia com o papel do Estado ou dos Governos provinciais. A sinalização das ruas não é da competência da Polícia Nacional. Nós podemos em função da nossa actividade aconselhar, sugerir, vir à público orientar os cidadãos, mas a sinalização não é da competência da policial”, disse.
Por seu turno José Magalhães, defende a adopção de medidas duras para põr cobro a corrupção e a consequente responsabilização quer do agente regulador de trânsito, quer do automobilista.
O também jornalista denuncia a existência de uma rede a nível da Direcção Nacional de Viação e Trânsito em colaboração com muitas escolas de condução que facilita a saída ilegal de cartas de condução.
«Existe no nosso país uma pesada rede de influência no que a obtenção da carta de condução diz respeito. Esta rede está ligada à Viação e Trânsito e as escolas de condução», disse o nosso interlocutor, para quem é importante que os Serviços de Investigação Criminal entrem em acção para destruição desta rede responsável pela entrega de cartas de condução aquem nem se quer conhece o código de estrada.
José Magalhães defende por outro lado a reoganização técnica da Direcção Nacional de Viação e Trânsito para que seja possível a retenção da carta de condução dos automobilistas reinsidentes no cometimento de infracções .
“O Estado a qualquer hora e momento pode sim retirar a carta de condução ao cidadão. Não se pode ter a carta de condução como uma arma mortífera.As autoridades deveriam reorganizar a Viação e Trânsito no sentido téccnico para não termos artas a sairem à “lagardé”. Segundo, a Viação e Trânsito deveria estar melimetricamente ligado as escolas de condução, mas aquelas com credibilidade”, disse.
O surgimento desregrado de escolas de condução é outro, dos muitos problemas cujo Estado precisa pôr ordem, mas o antigo instructor de condução mostra-se céptico em relação a tomade de medidas, já que “muitas escolas são de elementos ligados à Viação e Trânsito, Ministério dos Transportes, Investigação Criminal, Ministério do Interior, porquê?Porque dá dinheiro”, denunciou.
Devido ao trânsito carregado e a falta de descentralização dos serviços essenciais e alguns postos de trabalho, muitas são as famílias obrigadas a se levantarem as 4 da madrugada para 30 minutos mais tarde partir de casa para o serviço, numa viagem de 50, 30 ou 20 quilómetros-dependenmente do ponto da cidade em que habita- mas que pode durar duas a três horas no mínimo.
O Executivo angolano tem vindo a desenvolver um projecto de reabilitação de algumas vias, construção de novas estradas e a requalificação de algumas ruas estratégicas para o escoamento do trânsito, porém a demora e a fraca qualidade do material utilizado tem tornado estes projectos fracassados. Ligada às causas do fracasso dos projectos estão também as fortes chuvas que caem na cidade, já denominadas como “os grandes fiscais de obra” na metrópole angolana.
A cada enxurada dezenas de vias ficam obstruídas, casas inundadas e destruídas, várias pessoas perdem a vida, para além de dezenas de quilómetros de asfalto serem corroídos pelas águas. Situações que contribuem em grande medida para o aumento do congestionamento, face a incapacidade de resposta das autoridades.