“Eu vivi bem no tempo de José Eduardo dos Santos”, reacções populares à chegada do corpo

Homenagem a JES em Luanda

Israel Campos, Luanda

O corpo do ex-presidente angolano José Eduardo Dos Santos (JES), falecido há 6 semanas em Barcelona, Reino de Espanha, aterrou na noite neste sábado, 20, em Luanda. À chegada várias foram as reações populares sobre o simbolismo do momento.

A controversa disputada sobre a tutela do corpo do ex-líder angolano conheceu ontem finalmente um desfecho com a chegada do corpo de José Eduardo dos Santos a Luanda, a bordo de uma avião da companhia de bandeira angolana TAAG junto da ex-primeira dama da república, Ana Paula Dos Santos, filhos mais novos e demais familiares.

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Restos mortais de José Eduardo dos Santos já na residência oficial do Miramar

A chegada na base aérea, a família do engenheiro que governou Angola por 38 anos foi recebida por altas entidades do governo angolano, entre as quais o general Francisco Pereira Furtado, Ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Adão de Almeida, Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, e a ministra de Estado para o Sector Social, Carolina Cerqueira.

Restos mortais do antigo Presidente José Eduardo dos Santos na sua casa oficial no Miramar

Enquanto decorriam os procedimentos protocolares, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro grupos relativamente pequenos de pessoas iam se aglomerando, com ansiedade, aguardando a saída do corpo daquele que muitos nos descreveram como tendo sido um “dos melhores presidentes de Angola”.

“Ele foi um excelente presidente. Só quem sabe reconhece o quanto ele foi presente para o povo angolano. Ajudou muita gente!”, disse à VOA uma senhora de nome Joana, justificando a sua presença no aeroporto.

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Sobre a demora para a chegada do corpo de JES à Luanda, Joana disse-nos emocionalmente que compreende o porquê da demora mas que espera que a “justiça divina” seja um dia feita.

"Também sou filha. Nós não devemos julgar ninguém. Não somos perfeitos. Que a sua alma descanse em paz”, disse.

“Eu vivi [muito] bem no tempo dele”, ela concluiu.

Restos mortais do antigo Presidente José Eduardo dos Santos na sua casa oficial no Miramar

“No tempo do JES as coisas não eram como são agora”

Saído do aeroporto, o cortejo protocolar que escoltava o carro com urna dirigiu-se ao Miramar, na residência oficial do ex-estadista. Durante o caminho, ruas foram fechadas, populares buzinavam e acenavam efusivamente para saudar a família e manifestar as suas condolências.

Na residência oficial, foi realizada uma curta cerimónia religiosa e seguiu-se a apresentação formal de condolências à parte da família de José Eduardo Dos Santos.

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Restos mortais de José Eduardo dos Santos seguem do aeroporto para a Casa Oficial no Miramar

Do lado de fora da residência, não demorou muito para que populares manifestassem o interesse deles também poderem entrar na residência oficial para apresentarem as suas condolências à família.

Obedecendo a um protocolo de segurança e medidas de biossegurança, muitas foram as pessoas que conseguiram entrar na residência do ex-presidente angolano.

Augusto João foi um deles.

“Foram 38 anos de governação da sua excelência José Eduardo Dos Santos. É com muita honra que o povo angolano está aqui perante a sua residência” ele disse.

“O povo angolano se está aqui é porque agradece [os seus feitos]. A justiça demora, mas chega. O bom patriota deve ser enterrado no solo pátrio", João nos disse.

Na longa fila que se formou em frente da residência, estava também a comerciante Kiesse Pedro Pereira.

"Tive conhecimento da chegada dos restos mortais do nosso presidente, então vim dar também o meu contributo”.

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“No tempo do JES as coisas não eram como são agora. Tínhamos mais facilidades no estudo, nos mantimentos alimentares e muitas mais coisas” disse Pereira à VOA.

Até ao momento ainda não se conhece a data exacta do funeral de José Eduardo dos Santos.

Em conferência de imprensa, ontem (20), o ministro da Administração do Território, Marcy Lopes disse: “Nós iremos comunicar atempadamente o dia [do funeral] e qual será o procedimento das exéquias fúnebres”.