Na abertura do ano legislativo em Angola, o Presidente da República apresentou nesta terça-feira, 15, o seu tradicional discurso sobre o estado da nação, com um grande enfoque para a economia, com dados estatísticos animadores, na óptica de João Lourenço.
Durante duas horas, João Lourenço apresentou um quadro animador do país e instou o seu Governo a manter-se no bom caminho.
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Entretanto, especialistas ouvidos pela Voz da América dizem os dados do Presidente estão muito distantes da vida prática dos angolanos.
"Um conjunto de medidas e ações a ser feitas para reduzir o custo de vida que afligem os trabalhadores e os cidadãos no geral e vamos continuar a trabalhar para consolidar a reestruturação da economia, aumentar a produção nacional, sobretudo bens alimentares, e diminuir a dependência de choques externos, estabilizar os preços dos principais produtos de consumo e assim assegurar a prosperidade de todos”, afirmou o Presidente que enfrentou protestos silenciosos de deputados da UNITA que exibiram cartazes a acusar o Executivo de repressão e de nao resolver os problemas que o povo enfrenta.
“Acabe com a ditadura”, “Liberte os presos políticos”, “Presidente demita-se”, “Angola quer reformas”, “O povo tem fome”, “O povo quer autarquias”, eram algumas das frases destes cartazes.
João Lourenço congratulou-se com o crescimento económico de 4,3% obtido nos últimos trimestres, apesar de reconhecer que se mantêm pressões inflacionistas e sublinhou que as finanças públicas se mantêm “sólidas e resilientes”.
“Temos sido capazes de honrar os nossos compromissos”, reforçou, indicando que as reservas líquidas se situam atualmente em 14,9 mil milhões de dólares com uma taxa de cobertura de sete meses de importações.
O Presidente angolano falou em “resultados animadores” na saúde, anunciando inaugurações de novos hospitais no próximo mês, bem como na educação onde reconheceu que há também “grandes desafios” devido sobretudo à alta taxa de natalidade que exige maior capacidade para a resolução dos problemas, mas prometendo que vão continuar a ser mobilizados recursos.
No entanto, Lourenço reconheceu que a taxa de desemprego é alta, sobretudo nos jovens, mas afirmou que estão a ser criados novos postos de trabalho e anunciou que o programa de apoio aos mais pobres, Kwenda, será prolongado por mais cinco anos.
Angola real
Nas reações, o deputado da UNITA Faustino Mumbica falou em velhas promessas.
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"No âmbito da diversificação da economia não trouxe dados concretos, entrou na retórica de sempre de que precisamos diversificar a economia, que o país continua dependente do petróleo, isto todos nós já sabemos, José Eduardo dos Santos em 1979 já falava da necessidade de diversificar a economia, hoje João Lourenço continua na mesma senda", aponta Mumbica.
Aquele economista acrescenta que João Lourenço perdeu uma grande oportunidade de tratar alguns assuntos impactantes para as pessoas.
"Na prática quando vamos constatar, não precisa ser especialista para dizer que as populações têm fome, para perceber que os hospitais não estão bem, que as estradas não estão boas, as famílias passam fome são dados concretos”, conclui Mumbica.
O coordenador da CASA-CE e economista Manuel Fernandes diz que os dados estatísticos apresentados por Lourenço são diferentes dos dados reais.
“Quando o Presidente diz que o endividamento está ao nível do que é recomendado oficialmente, é difícil concordar porque o Presidente não disse qual é o PIB real do país hoje, quando fala da valorização da moeda nacional gostaríamos de saber qual é o impacto que isto tem na vida real das pessoas, uma coisa são dados estatísticos outra coisa é a realidade", aponta Fernandes.
Aquele economista acrescenta que o Presidente devia apresentar medidas concretas por exemplo "como resolver a questão da empregabilidade, a mobilização de recursos para alavancar a economia, para melhorar o ambiente de negócios, as vias de comunicação, o investimento estrangeiro etc".
No seu discurso, o Presidente angoano abordou combate à corrupção e disse que as ações do Executivo permitiram recuperar desde agosto de 2023 bens imóveis, participações e recursos financeiros avaliados em mais de 1,8 mil milhões de dólares (1,65 mil milhões de euros).
Ele acrescentou que foi requerida a restituição de mais 1,9 mil milhões de dólares (1,74 mil milhões de euros) a Portugal, Bermudas, Suíça, Singapura, Luxemburgo, Namíbia e Emirados Árabes Unidos na sequência de processos judiciais com decisões transitadas em julgado.