O Presidente angolano disse esperar que José Eduardo dos Santos deixe a liderança do MPLA, partido no poder, em 2018 como tinha anunciado e admitiu ter relações normais com o seu antecessor.
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Na primeira conferência de imprensa desde que assumiu a Presidência angolana e para marcar os 100 dias da sua gestão, João Lourenço lamentou nesta segunda-feira, 8, em Luanda, que o Governo português não tenha satisfeito o pedido de transferir o caso do antigo vice-presidente Manuel Vicente para a justiça do país “alegando que não confia na Justiça angolana”, o que para ele é uma ofensa.
Lourenço condicionou, inclusive, a transferência do caso para a justiça angolana à melhoria das relações com Portugal.
Relações normais com Santos
Na conversa com mais de uma centena de jornalistas nacionais e estrangeiros, o Presidente revelou manter ““relações normais de trabalho” com José Eduardo dos Santos, enquanto presidente do MPLA e negou qualquer bicefalia na governação porque “cada um está a cumprir o seu papel”, dentro da Constituição.
“Não sinto essa crispação nas nossas relações”, afirmou João Lourenço à pergunta de um jornalista.
Quanto à eventualidade de Santos continuar no cargo para além de 2018, como se comentam alguns círculos políticos, o Presidente lembrou que o ano começou há apenas oito dias e remeteu a resposta para o próprio líder do partido.
“Só a ele compete dizer se o fará, se vai cumprir com esse compromisso. Quando isso vai acontecer, só a ele compete dizer”, reiterou Lourenço.
Concursos públicos
O correspondente da VOA em Luanda, Coque Mukuta, perguntou ao Presidente angolano porque não há concursos para admissão de novos funcionários em empresas públicas como Indiama, Sonangol, TPA, RNA.
Lourenço explicou "não haver possibilidades de tais concursos" naquelas empresas
Caso "Manuel Vicente" tem de ser julgado em Angola
Noutro tema tratado, o Presidente angolano lamentou que o Governo português não tenha satisfeito o pedido de transferir o caso do antigo vice-presidente Manuel Vicente para a justiça do país “alegando que não confia na Justiça angolana”, o que para ele é uma ofensa.
“Nós não estamos a pedir que ele seja absolvido, que o processo seja arquivado, nós não somos juízes, não temos competência para dizer se o engenheiro Manuel Vicente cometeu ou não cometeu o crime de que é acusado. Isso que fique bem claro”, disse Lourenço, que reafirmou a pretensão de o caso do ex-vice-Presidente ser julgado em Luanda, ao abrigo dos acordos judiciários entre os dois países.
“Lamentavelmente [Portugal] não satisfez o nosso pedido, alegando que não confia na Justiça angolana. Nós consideramos isso uma ofensa, não aceitamos esse tipo de tratamento e por essa razão mantemos a nossa posição”, continuou o Presidente angolano que condicionou a melhoria das relações com Portugal ao comportamento de Lisboa no caso "Operação Fizz", processo em que o ex-vice-Presidente de Angola e ex-presidente do conselho de administração da Sonangol, Manuel Vicente, é suspeito de ter corrompido, em Portugal, Orlando Figueira, quando este era procurador do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), do Ministério Público.
A conferência de imprensa de hoje de João Lourenço marca uma nova era no relacionamento entra a Presidência e os jornalistas, de acordo com vários observadores.
Liderdade de imprensa e exonerações
Lourenço admitiu que este encontro deverá acontecer anualmente e reiterou o seu compromisso co a liberdade de imprensa.
Questionado sobre a extensão do sinal da Rádio Eclésia, pertencente à Igreja Católica, a todo o país, o Presidente considerou-o um antigo mas "falso" problema, uma vez que o Estado defende quer a liberdade de imprensa, quer a liberdade de expressão.
João Lourenço, que fez um balanço dos seus 100 dias na Presidência angolana, defendeu as exonerações como “necessárias”.
“A exoneração do Conselho de Administração da Sonangol foi por conveniência de serviço”, defendeu Lourenço que esclarecer que os termos do contrato entre a TPA e a Semba Comunicação “são bastante lesivos aos interesses do Estado”.
Quanto à luta contra a corrupção, João Lourenço resumiu-a em duas palavras “coragem e determinação” e concluiu que “a impunidade contribuiu para os elevados índices de corrupção em Angola”.