Com centenas de trabalhadores ainda a monte, uma semana após os confrontos que provocaram mortes e feridos, foram retomadas as obras no projecto hidroeléctrico de Caculo Cabaça, na província angolana do Kwanza Norte, onde esteve nesta terça-feira, 31, o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, quem reafirmou legitimidade nas reivindicações por melhores salários e condições laborais.
A Federação dos Sindicatos da Construção Civil aplaude a abertura para o diálogo, mas avisa que esta e outras lutas da classe vão prosseguir.
Em entrevista à VOA, o secretário-geral desta organização sindical, Manuel Sebastião, que dá a conhecer a criação de uma equipa multissetorial para analisar as reivindicações, indica que a maior parte da força de trabalho está em casa, talvez com receio devido à gravidade dos factos.
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“Sei que muitos poderão ter receio de regressar, isto é verdade. Houve uma falha, surgiu o tumulto devido ao descontentamento não só por salários, mas também de saneamento básico e … com a orientação do ministro a coisa vai estar diferente, hoje estão de volta, mas a luta continua”, promete o sindicalista.
Sebastião acrescenta que a maior parte dos trabalhadores está em casa, “são jovens, é preciso entender, aí a culpa é do empregador, o chinês tem uma cultura diferente da nossa”.
A comissão de trabalho é composta pela Unta-Confederação Sindical, Ministério da Energia e Águas e Governo Provincial do Kwanza Norte.
O director daquele que será o maior aproveitamento hidroeléctrico do país, Augusto Chico, falou à Rádio Nacional de Angola do ambiente que caracteriza Caculo Cabaça.
“A situação na obra é de normalidade, retomámos os trabalhos de construção efectivamente, enquanto decorre a investigação criminal e a instauração dos respectivos processos judiciais a cargo dos órgãos competentes”, salienta o gestor.
A Polícia Nacional já fez saber que abriu um inquérito para apurar as causas da violência e responsabilizar os culpados.
O ministro João Baptista Borges, que deu 15 dias para um acordo entre as partes, prometeu deslocações periódicas ao Kwanza Norte a fim de acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.
Na quinta-feira, 26, disparos efectuados por agentes das forças de segurança para dispersar uma marcha dos trabalhdores por melhores salários e condições de trabalho deixaram três mortos e quatro feridos.
A UNITA, principal partido da oposição, emitiu uma comunicado em que “condena com veemência” e "insta as autoridades a porem cobro aos atentados à vida e à dignidade humana, que são direitos constitucionalmente consagrados”.
O partido pede também “responsabilização civil e criminal” dos autores materiais e morais dos que considera hediondos crimes.