Julgamento dos generais "Kopelipa" e "Dino" com várias leituras em Luanda

Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, general angolano

Eles são acusados dos crimes de peculato, burla por defraudação, falsificação de documentos, associação criminosa, abuso de poder, lavagem de capitais e tráfico de influências

O julgamento dos generais angolano Hélder Vieira Dias”Kopelipa” e Leopoldino do Nascimento “Dino”, está a ser alvo de várias leituras por parte de analistas políticos ouvidos pela Voz da América.

O Tribunal Supremo (TS) anunciou para esta terça-feira, 10, o julgamento do processo, que remonta ao ano de 2022, em que são arguidos “Kopelipa” e “Dino”, que eram figuras próximas do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

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Angola: Julgamento dos generais "Kopelipa" e "Dino" com várias leituras

Aqueles generais, o advogado Fernando Gomes dos Santos e as empresas China international Fund (CIF), Plansmart International Limited e Utter Right International Limited, são acusados da prática dos crimes de peculato, burla por defraudação, falsificação de documentos, associação criminosa, abuso de poder, lavagem de capitais e tráfico de influências.

De acordo com um comunicado do Tribunal Supremo, o julgamento tem 38 declarantes e testemunhas.

O jornalista Ilídio Manuel é de opinião que o julgamento dos dois antigos dirigentes “visa criar um facto político para desviar as atenções da opinião pública em meio ao congresso extraordinário do MPLA que deverá permitir a João continuar na liderança partidária".

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Aquele analista político diz que, de outro modo, não faz qualquer sentido iniciar um julgamento, que se espera complexo, a poucos dias do início das férias judiciais, que só terminam em finais de Janeiro de 2025.

Outro cenário avançado por Ilídio Manuel tem a ver com a eventualidade de o Governo pretender enviar um sinal ao Executivo americano, que "no âmbito da visita de Joe Biden envia a mensagem aos EUA de que Angola está empenhado no combate à corrupção”.

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Por sua vez, o académico João Lukombo Nzatuzola, considera que em política não existem coincidências.

“Tudo deve ter um motivo para alcançar algum dividendo ou não”, aponta Nzatuzola, para quem “é possível que este julgamento venha desvendar outros processos que ainda não sabidos”.

Entretanto, a defesa dos acusados foi citada nesta segunda-feira, 9, como tendo solicitado o adiamento do início do julgamento por conta da comunicação tardia aos advogados.

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A Voz da América tentou, sem sucesso, ouvir a defesa dos arguidos sobre o alegado pedido de adiamento.

Devoluções ao Estado

De recordar que os generais “Kopelipa e "Dino" entregaram ao Estado bens e participações em empresas adquiridas com dinheiros públicos segundo confirmou a Procuradoria Geral da República (PGR).

A PGR revelou que, na qualidade de representantes das empresas China International Fund Angola -- CIF e Cochan, S.A., os generais entregaram as ações que detinham na empresa Biocom-Companhia de Bioenergia de Angola, Lda., na rede de Supermercados Kero e na empresa Damer Gráficas-Sociedade Industrial de Artes Gráficas SA.

Entre outros bens devolvidos, estão ainda fábricas de cimento, de cerveja e de montagem de automóveis, bem como os equipamentos, máquinas e móveis afectos, e os bens apreendidos pelo Serviço Nacional de Recuperação de Activos (SENRA) em fevereiro passado.

Da lista dos bens devolvidos, segundo a PGR, constam a centralidade do Kilamba, com um total de 251 edifícios e 837 vivendas, os edifícios CIF Luanda One e CIF Luanda Two.

A 11 e 17 de fevereiro, a PGR tinha apreendido em Luanda duas torres, com cerca de 25 andares, propriedade da CIF.

Antes, mais de mil imóveis no Zango 0 e Kilamba, construídos com fundos públicos e que estavam na posse de entidades particulares, também foram apreendidos.

Na altura, a televisão estatal citou o nome de Leopoldino do Nascimento “Dino” e de “outras altas patentes que lhe são próximas”, como estando entre os suspeitos de serem os “ beneficiários últimos” dos imóveis arrestados pela PGR, avaliados em mais de 500 milhões de dólares.