João Lourenço tenta de novo a paz entre a RDC e o Ruanda

Presidentes João Lourenço, de Angola (esq), Paul Kagame, do Ruanda (cen) e Felix Tshisekedi, da RDC, Luanda, 21 Fevereiro 2020

A missão do Presidente angolano na mediação do conflito que opõe a República Democrática do Congo e o Rwanda só será bem sucedida com o envolvimento de outros actores com interesses económicos e políticos na região, consideram analistas ouvidos pela VOA.

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João Lourenço vai mediar novamente entre Kagame e Tshisekedi - 2:57

O Presidente João Lourenço convidou os seus homólogos da RDC e do Ruanda , Paul Kagame e da RDC Félix, Tshisekedi, para mais uma cimeira, na próxima segunda-feira (21), em Luanda, sobre a tensão militar no leste da RDC onde o movimento M23 de etnia Tutsi tem vindo a alcançar avanços. Kinshasa acusa o Ruanda de apoiar o movimento

O veterano jornalista angolano, Avelino Miguel, socorre-se do quadro da Partilha de África pelas potências colonias na Conferência de Berlin de 1884/85 para sustentar que a procura da paz e estabilidade para a região dos Grandes Lagos tem de passar necessariamente pelo envolvimento das antigas colónias europeias .

“Só as iniciativas diplomáticas do Presidente João Lourenço não vão resolver o problema do Leste do Congo ”, afirma Avelino Miguel que defende o “ alargamento das diligências diplomáticas” à França e à Bélgica e até mesmo ao Reino Unido, aos Estados Unidos da América e às Nações Unidas.

Quem admite dificuldades ou mesmo fracasso da mediação de João Lourenço é o investigador Fernando Guelengue que considera que o estadista angolano não é “ um pacificador natural nem promotor do diálogo interno''.

“Todo o mediador de um determinado conflito deve ter como base o exemplo de si próprio e do país que dirige”, disse

O Presidente, João Lourenço deslocou-se, na última semana, aos dois países, a mando a União Africana, para junto dos seus mais altos mandatários procurar retomar o chamado “Roteiro de Luanda”, adoptado em Julho de 2022, na capital angolana e reconhecido pela região e pelo Conselho de Segurança da ONU.

A partir de Kinshasa, o ministro angolano das Relações Exteriores, Téte António disse que o Roteiro de Luanda foi entendido pelas partes como “um denominador comum e que , em função disso, todos concordam é a saída política”.

O chefe da diplomacia angolana precisou que a "modalidade prática de implementação” deste plano de paz “é que se deve adaptar a todas as situações que possam ocorrer”.

O documento que ficou conhecido como Roteiro de Luanda para a Paz no Leste da RDC determina a instauração de um clima de confiança entre os Estados da Região dos Grandes Lagos, a criação de condições ideais de diálogo e concertação política, com vista a resolução da crise de segurança no Leste da RDC.

Prevê, de igual forma, a normalização das relações políticas e diplomáticas entre a RDC e Ruanda, a cessação imediata das hostilidades, a criação de um Mecanismo de Observação Ad-Hoc, liderado por um general angolano para acompanhar o cumprimento dos acordos e a criação de mecanismos regionais de luta contra a exploração ilícita de recursos naturais na região, com realce no território da RDC

A retirada imediata das posições ocupadas pelo M23 no território congolês, em conformidade com o comunicado final de Nairobi, a criação de condições para o regresso dos refugiados e reactivação da equipa conjunta de inteligência para definir as modalidades práticas e o programa de luta contra as FDRL, em coordenação com a presidência da CIRGL e o Processo de Nairobi, engrossam o conjunto de pontos essenciais do “Roteiro de Luanda”

A Secretaria de Imprensa do Presidente da República, referiu nesta terça-feira que o Chefe de Estado angolano convidou, igualmente, o antigo Estadista queniano, Uhuru Kenyatta.

A cimeira de Luanda deverá aprovar o Plano de Acção da Paz na República Democrática do Congo (RDC) e o restabelecimento das boas relações com o vizinho Rwanda.

O Presidente, João Lourenço, que preside à Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), é igualmente o medianeiro da União Africana (UA) na crise entre o Rwanda e a RDC