João Lourenço em maratona diplomática para tentar salvar acordo de cessar-fogo entre RDC e Ruanda

Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e Presidente de Angola, João Lourenço, Luanda, Angola, 8 agosto 2024

Presidente da África do Sul em Luanda para analisar situação na África Austral

O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, realizou nesta quinta-feira,8, uma visita de algumas horas a Angola descrita como de “troca de impressões sobre questões bilaterais e os conflitos em África”.

Analistas políticos da Voz da América admitem que a visita faz parte igualmente dos esforços que visam garantir o cumprimento do Acordo de Cessar-Fogo, assinado em Luanda, entre a República Democrática do Congo (RDC) e do Rwanda, sob a mediação de João Lourenço.

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João Lourenço em maratona diplomática para tentar salvar acordo de cessar-fogo entre RDC e Ruanda

A efetivação do cessar-fogo no Leste da RDC, assinado a 30 de julho, em Luanda está a ser motivo de forte movimentação diplomática envolvendo Angola, os Estados Unidos, a agora Africa do Sul a par da RDC e do Ruanda.

A maratona diplomática é vista por especialistas angolanos como um sinal indicativo de alguma preocupação em relação a sinais descarrilamento do acordo de cessar-fogo, em meio à recusa do M23 em cumprir o protocolo.

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Em menos de uma semana desde que o protocolo foi alcançado, o Presidente, João Lourenço, na qualidade de mediador do conflito, já manteve contatos por telefone com os presidentes da RDC, Félix Tshisekedi, e da República do Ruanda, Paul Kagamé.

Nesta segunda-feira, 6, o ministro angolano das Relações Exteriores, Teté António, encontrou-se com o embaixador americano, Tulinabo Mushingi, para abordar, entre outros assuntos, “as questões ligadas à Situação de Paz e Segurança no Leste da República Democrática do Congo (RDC)”.

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O assunto voltou a ser tema de conversa ao telefone nesta quarta-feira,7, entre o Presidente Angolano e o secretário de Estado Americano, Antony Blinken. Esta maratona diplomática é vista por especialistas angolanos como um sinal indicativo de alguma preocupação em relação aos sinais de descarrilamento do acordo de cessar-fogo, em meio à recusa do M23 em cumprir o protocolo.

Assinado sem a presença dos seus respetivos presidentes, o cessar-fogo está a ser acompanhado com ceticismo depois que, no dia da sua entrada em vigor, 4, os rebeldes do Movimento M23 terem capturado a cidade congolesa de Ishasha na fronteira com o Uganda.De seguida, disseram rejeitar o acordo com a alegação de que não se reviam no mesmo “por terem sido marginalizados”.

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Domingos Barbante, especialista em gestão de conflitos e relações internacionais, considera que a falta de confiança entre o Rwanda e a RDC está na origem na vulnerabilidade dos acordos.

“Os acordos têm sempre uma possibilidade de não se afirmar quando uma das partes se sente insatisfeita”, defende aquele especialista para quem “é preciso encontrar um meio termo que satisfaça as partes em conflito”.

O académico e sociólogo angolano João Lukombo Nzatuzola diz que o acordo pecou "por não ter incluído os movimentos rebeldes e pela ausência dos presidentes do Ruanda e da RDC".

Depois da reunião com João Lourenço, o Presidente sul-africano disse, no Aeroporto Internacional Dr. Agostinho Neto, antes de deixar Angola, que agradeceu "pelo esforço que tem mostrado no sentido de mediar a situação que se testemunha neste momento na RDC e as conquistas até agora alcançadas, nomeadamente o cessar-fogo entre a RDC e o Ruanda".

Achamos que é algo extremamente importante e que deve ser celebrado", conclui Ramaphosa.

Em Junho deste ano, o Presidente angolano anunciou, em Abidjan, Côte d’Ivoire que a mediação angolana estava a produzir resultados animadores para a resolução daquele conflito,” apesar de algumas ocorrências ao longo do processo parecerem deitar por terra todo o esforço levado a cabo”.

João Lourenço referiu que estes resultados davam esperanças animadoras quanto à resolução do conflito vivido na região Leste da RDC e destacou o esforço levado a cabo pelas lideranças africanas para a construção da paz, segurança e estabilidade no continente.

João Lourenço referiu estar-se, definitivamente, consciente de que, sem estes fatores, não será possível percorrer, com sucesso, os caminhos do desenvolvimento traçados no quadro das estratégias delineadas, quer a nível das organizações regionais, quer de cada um dos países.