O Presidente angolano desafiou nesta sexta-feira, 30, o MPLA, na reunião do Comité Central, a denunciar actos de corrupção no processo de privatização das empresas públicas.
João Lourenço alertou que as empreitadas públicas não podem ser entregues a “nossos familiares, nossos filhos” e reiterou que o MPLA deve ser o primeiro a impedir a constituição de um impérios económicos por parte de uma família ou se uma pessoa, sobretudo “quando usamos fundos públicos ou investimentos públicos”.
Sem citar o nome do antigo presidente do Fundo Soberano de Angola, José Filomeno Santos, Lourenço disse que "de forma pouco responsável", se confiou a "um jovem inexperiente" a gestão de biliões de dólares do país e, frente a este caso, afirmou que o partido "não pode ficar indiferente e tem de bater o pé perante tamanha afronta aos verdadeiros donos desses recursos, o povo angolano".
"Intocáveis que podiam tudo"
Na sua intervenção, o presidente do MPLA denunciou os militantes que a coberto do partido e da sua condição de dirigentes “lesam gravemente o interesse público, cometem desmandos, arbitrariedade e abusos do poder em detrimento de pacatos cidadãos, evocando a figura caricata do “camarada ordens superiores” que deve ser banido e ter nome e rosto.
Lourenço afirmou ainda que a falta de patriotismo de alguns angolanos têm desincentivado estrangeiros ainvestirem em Angola.
Para o Chefe do Esado, é "surpreendente" o facto de cidadãos nacionais "evocarem, quem sabe desejarem, e até financiarem, uma provável instabilidade política, mas lembrou que é um assunto que está a ser tratado com "seriedade" pois mexe com a segurança nacional.
Mais: Lourenço acrescentou que "aqueles que vêm perdendo privilégios auto adquiridos (..), "deviam ter a sensatez e humildade de agradecer a este povo generoso por lhes ter dado essa possibilidade e não se fazerem de vítima, porque a única vitima desse comportamento ganancioso foi o povo".
Aliás, o líder do MPLA foi mais longe e garantiu que "Angola jamais voltará a ser a mesma de há uns anos", e acabou o tempo "de oportunidade de uns quantos intocáveis que tudo podiam".
Fim dos monopólios
Nos círculos políticos, a intervenção de João Lourenço é considerada a mais forte crítica directa ao Governo de José Eduardo dos Santos e feita no núcleo principal do partido, onde há apoiantes de Santos.
Ao deixar indicações sobre o combate à corrupção, Lourenço afirmou que "o partido deve condenar e impedir que as empreitadas das grandes obras públicas, como portos, aeroportos, centrais hidroelétricas, cimenteiras, ordenamento e gestão de cidades e outros, sejam entregues aos nossos filhos, familiares ou outros próximos se não obedecerem às regras e normas do concurso público, da contratação e da são concorrência".
O Chefe de Estado também criticou os monopólios ao afirmar que "nunca deve aceitar o monopólio de um único produto económico" na comercialização de um produto tão valioso como os diamantes, "o que pode ter como consequências a fuga das multinacionais do sector que não entanto investem em outros países até vizinhos".
Quanto a outros assuntos da actualidade política, João Lourenço alertou que o país vive novos tempos com uma “oposição mais combativa, uma imprensa mais livre e investigativa, uma sociedade civil mais interventiva e rigorosa na exigência ao estrito cumprimento da lei, do respeito pelo erário pública e pelos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos.
João Lourenço ainda reiterou que as eleições autárquicas serão realizadas de forma gradual, numa primeira fase, e num período de dois anos em todos os municípios do país.