A satisfação do Governo angolano pela criação de centenas de postos de trabalho em três companhias de pesca numa localidade da província de Benguela, a Caota, parece estar em contradição com denúncias de jovens que se sentem explorados, numa alusão a trabalho sem descanso, baixos salários e péssima alimentação.
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Integrados em empreendimentos que resultam de parcerias entre angolanos e chineses, num investimento total superior a 65 milhões de dólares, os trabalhadores referem que só não abandonam a actividade porque não têm alternativas.
Ainda antes da satisfação manifestada pela ministra das Pescas e do Mar, Vitória de Barros, e pelo governador de Benguela, Rui Falcão, alguns dos cerca de 800 jovens empregados disseram, sob anonimato, que a descarga e o processamento do pescado são missões bastante duras para quem não vê recompensa.
“O trabalho é muito duro, é difícil carregar o peixe para o outro lado, no processamento. Com esses mil por dia e oitocentos kwanzas para as senhoras, é complicado. Trabalhamos de segunda a domingo, dia do biscate’’, lamentam alguns trabalhadores.
A alimentação, conforme denunciam os homens do mar, está longe do mínimo que se exige, daí os casos de doenças nas companhias de pesca da localidade da Caota.
“A alimentação não é favorável, é pirão só com peixe, às vezes colocam um molho, mas fica tudo estranho. Por isso muitos colegas ficam doentes, aqui não se respeita a lei geral do trabalho, uma vez que trabalhámos mais de oito horas por dia. Não basta olhar para as paredes bonitas, o Governo deve estar preocupado com o que se passa cá dentro’’, acrescentam os pescadores.
A VOA apurou que as empresas, chegam a facturar entre 200 e 300 milhões de kwanzas por dia, uma média a rondar os 150 mil dólares.
O secretário-geral do Sindicato das Pescas e Derivados, adstrito à UNTA-CS, Joaquim de Sousa, diz estar a par das ocorrências.
“A situação laboral é delicada, viola-se a Lei Geral do Trabalho, já que trabalham sem descanso e, pior, não recebem horas extras, a empresa não liga para isto. É dentro deste contexto que vamos persuadir as entidades empregadoras’’, promete o Sousa.
Na hora do reconhecimento de uma realidade considerada caótica, o empresário angolano Paulo Salvador, administrador de uma das firmas, promete melhorias, ao passo que da parte chinesa, que fica a comandar as operações marítimas, surge apenas, pela voz de Xu Xu.
“Para os testes ainda não temos o salário estipulado para o pessoal. A partir de hoje mesmo vamos trabalhar nesse aspecto e vamos começar a pagá-los condignamente’’, anuncia o gestor.
Inauguradas na passada segunda-feira, 2, as companhias de pesca Famihão -Lda, Fuhai/Atlântico e Guanda Pesca têm uma capacidade de processamento superior a 500 toneladas por dia.
O salário mínimo para o trabalhador chinês equivale a seis mil kwanzas por dia.