José Eduardo dos Santos pediu para Comissão Eleitoral reduzir sua vitória em 1992

Herman J. Cohen

A ideia é que Jonas Savimbi fosse à segunda volta das eleições,revela o antigo secretário de Estado americano para os Assuntos Africanos Herman Cohen.

O Presidente angolano José Eduardo dos Santos obteve mais votos do que foi oficialmente anunciado nas eleições de 1992.

A afirmação é do antigo secretário de Estado adjunto para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos Herman Cohen, que revela ainda que Jonas Savimbi teria sido um ditador “tirano” se tivesse ascendido ao poder.

Na obra The Mind of the African Strongman: Conversations with dictators, statesmen, and father figures (A mente do homem forte africano: conversa com ditadores, estadistas e figuras paternal), Cohen escreve que, após as eleições no final de Setembro de 1992, ele deslocou-se a Angola para se encontrar com o Presidente da República.

Nas conversas, José Eduardo dos Santos disse recear que Jonas Savimbi não iria aceitar o resultado das eleições.

“Por essa razão”, escreve o antigo diplomata americano, “José Eduardo dos Santos implorou ao presidente da Comissão Eleitoral independente para baixar o total de votos conseguidos por ele de 51% para 49% - o único resultado tornado publico - para que Savimbi pudesse ter uma oportunidade de ir à segunda volta”.

Herman J Cohen

No capítulo referente a Angola, Herman Cohen diz que as relações entre os Estados Unidos e a Unita deterioraram-se a partir de então devido à recusa de Washington de classificar as eleições de fraudulentas, como exigido pelo partido liderado por Savimbi.

Cohen afirma ainda que, mesmo entre os apoiantes conservadores de Savimbi, o entusiamo pela Unita tinha diminuído.

Ele cita um dos seus grandes apoiantes, o senador Dennis DeConcini, como tendo dito que os Estados Unidos tinham dado a Savimbi o que ele queria, nomeadamente eleições livres. e que, portanto, a Unita tinha deixado de merecer o apoio americano.

O então Secretário de Estado americano James Baker foi mais longe e disse a Cohen que, com o fim da guerra fria, “a Unita tinha deixado ser uma questão política quente no congresso”.

“Tínhamos sido inteligentes em fazer os acordos quando os fizemos”, escreve Cohen no seu livro, mas ressalta que “tínhamos de esquecer a Unita”.

O antigo diplomata americano considera o líder da Unita “um dos mais carismáticos e sofisticados dirigentes africanos” que encontrou ao longo da sua carreira.

Jonas Savimbi, escreve Cohen, tinha “um profundo conhecimento do povo angolano, especialmente das populações agrícolas da sua zona de origem”, mas considera que a sua campanha eleitoral foi um erro ao apresentar-se “como um líder da guerrilha, com armas e uma retórica que sublinhava a vingança”.

“As declarações de Savimbi assustaram praticamente todos os eleitores angolanos”, escreve Cohen, que diz ter ficado com “sentimentos contraditórios” quando soube da morte do líder da Unita.

“Ao ver o seu charme e sofisticação ao longo dos anos, bem como a sua legitima revindicação de ser o único verdadeiro africano entre os diversos combatentes da liberdade (em Angola), senti que ele deveria ter sido presidente de Angola”, reconhece Cohen que, no entanto, mais à frente acrescenta: “Mas depois de ver o crescimento do seu ego e a sua arrogância autoritária ao longo dos anos, senti no meu coração que o povo de Angola tinha evitado o Governo de um discípulo tirano de Mao Zedong”.

O livro do antigo secretário de Estado Adjunto americano para os Assuntos Africanos foi lançado este ano nos Estados Unidos.