A recente acusação à imprensa portuguesa de, alegadamente, ser um veículo de campanha de desestabilização e "ingerência abusiva" feita pela Televisão Pública de Angola (TPA), em editorial, está a ser interpretada por jornalistas em Luanda como um sério aviso às vozes críticas do Governo dentro e fora de Angola.
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Embora tenha sido um recado aparentemente dirigido à mídia portuguesa, jornalistas contactados pela VOA acreditam que os profissionais independentes e os órgãos de comunicação social privados angolanos não irão escapar à nova cruzada contra os críticos do Executivo.
O jornalista Ilídio Manuel diz que a postura da TPA é indicativa do regresso “da lei da rolha” ao país e admite que as ameaças à imprensa vão subir de tom com o aproximar das eleições em Angola.
“Há uma tendência de endurecimento do regime em relação à imprensa, do controlo dos órgãos de comunicação sociale de intimidação dos próprios jornalistas por via dos processos judiciais'', diz.
O confisco pelo Governo dos órgãos privados, o encerramento de outros e o desaparecimento forçado dos jornais privados são, para o jornalista do Club-K Lucas Pedro, elementos que concorrem para o regresso aos paradigmas do anterior Executivo, liderado por José Eduardo dos Santos.
“Isto demonstra claramente qual é papel e o tipo de imprensaque o Presidente da República que tenhamos”, afirma Lucas Pedro.
O editorial da TPA disse que "a partir de Lisboa, há quem ainda pense ser possível fazer ingerência abusiva e grosseira nos assuntos de outros estados da mesma comunidade".
"Os meios de comunicação nestes casos são apenas veículos de transmissão nesta campanha de desestabilização dos nossos países, daí não acusarmos nenhum deles em concreto", prosseguiu o editorial, apontando "reiteradas tentativas de, com reportagens televisivas, artigos em jornais ou noutros meios" se tentar mostrar que Angola não está realmente empenhada na luta contra a corrupção.
"Em matéria de combate à corrupção e à impunidade, em apenas três anos, fez mais do que aqueles que nos pretendem dar lições", disse a TPA, sublinhando que "Angola não é menor de idade" e que a justiça angolana já condenou dois ministros e o gestor do Fundo Soberano de Angola, mesmo sendo filho do ex-Presidente, José Eduardo dos Santos.
A VOA tentou contactar o secretário do MPLA para a Informação, Rui Feijó, mas sem sucesso.
Entretanto, o partido no poder assegurou recentemente considerar prioritário o acesso dos cidadãos a uma informação mais plural, rigorosa, isenta e credível, apelando à melhoria e diversificação de conteúdos jornalísticos, que visem contribuir para o desenvolvimento educacional, cívico e cultural da população,
Numa declaração publicada, por ocasião do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, o MPLA afirmou ser fundamental o papel dos jornalistas para o alcance deste pilar constitucionalmente consagrado em Angola" e apelou à união da sociedade civil e dos jornalistas.
Para o comité central do Bureau Político do MPLA, "a Liberdade de Imprensa é uma realidade cada vez mais evidente em Angola",