O jornalista angolano José Honório, da Delegação da Agência de Notícias (Angop) em Benguela, vai apresentar uma queixa-crime contra agentes da Polícia Nacional por tentativa de homicídio por asfixia, ocorrida nesta quarta-feira, 16,quando defendia vendedoras ambulantes que poderiam ter visto apreendido todo o seu produto.
Your browser doesn’t support HTML5
O profissional de comunicação, que diz ter deixado o hospital com ferimentos resultantes de pontapés e cabeçadas, explica que as senhoras não vendiam na via pública, como acontece sempre que são autuadas, e revela que os agentes da ordem invadiram o edifício onde se encontravam.
O caso de Honório, já condenado pelo Comando Provincial da Polícia, vai ser levado à Procuradoria Militar pelo seu advogado.
Já depois da jornada laboral, sem os aparelhos para reportagem, José Honório evidenciou a sua atitude cidadã ao insistir com apelos ao bom senso quando as vendedoras ambulantes viam fugir o seu sustento.
“Vendo que eu continuava a implorar por um tratamento digno para as senhoras, desviaram todo foco da operação contra a minha pessoa, num momento de terror indescritível. Pegaram-me pelas pernas, os braços, fizeram tudo, substituindo o diálogo pela pancadaria gratuita”, conta o jornalista, acrescentando que “fui levado à força, lutei, mas sozinho nada pude fazer, algemaram-me a mão esquerda, com chapadas na cara”.
O jornalista, que tinha a companhia da filha de três anos e de uma irmã, assume que não se importava de seguir os seis agentes até a uma esquadra, se necessário fosse, na sua própria viatura, mas não foi atendido.
Ele diz ainda que ouviu o pior a caminho da unidade, numa operação, como refere, dirigida pelo agente Isaac Jimi.
“E como se não se contivessem, a dado momento do percurso, um dos agentes disse ‘nós vamos te tirar a vida, vamos te matar’, e eu gritava não façam isso, em nome do comandante Ary (comandante provincial) mas eles diziam que ‘se o comandante é teu tio não vai fazer nada’. Eu disse que não, não é meu tio, salientando ainda que eles estavam a pisar na minha camisola da Angop, camisola de reportagem”, denuncia.
“Levaram-me cafricado, foi uma tentativa de homicídio por asfixia, é o que vai dizer o meu advogado, porque não há vida sem respiração", conclui José Honório.
Em reacção, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia em Benguela, Ernesto Pedro Tchiwale, assegura que a Inspecção está já a ouvir os agentes em causa, que podem levar castigos que vão até à expulsão.
“Lamentamos profundamente o sucedido, os agentes já estão a ser interrogados no quadro deste processo. Se forem culpados, vão ter as respectivas sanções, que vão desde a repreensão até à demissão compulsiva. Estamos a ter em consideração o que nos diz o ofendido”, avança o oficial.
José Honório não foi agredido em exercício de funções, mas associações profissionais, como o Sindicato dos Jornalistas Angolanos e o Clube de Imprensa de Benguela, estão a repudiar o sucedido de forma veemente, manifestando solidariedade para com o funcionário da Angop.
Até agora não há reacção da entidade patronal do jornalista.