Jonuel Gonçalves: "Rússia está a tentar ocupar o lugar da França" em África

Jonuel Gonçalves, escritor, historiador e analista político

Investigador, escritor e analista político aborda presença russa em África e impactos da crise actual entre Moscovo, Kiev e o Ocidente

A geopolítica mundial vai ter consequências com a crise actual entre a Rússia, Ucrânia e Ocidente, através de uma redistribuição de cartas entre as potências mundiais.

Mesmo sem se conhecer a dimensão dessa crise, que, segundo os Estados Unidos e governos europeus, aponta para uma invasão em grande escala da Ucrânia por Moscovo, ela vai ter impacto no continente africano.

A Rússia indicou claramente nos últimos anos que está de regresso à África, para tentar resgatar o peso da antiga União Soviética, e poderá aprofundar ainda mais essa apetência.

O investigador, escritor e analista político Jonuel Gonçalves lembra que “esta redistribuição de cartas já se sente há dois ou três anos” com a Rússia a tentar ocupar o lugar da França, “depois de ter feito uma avaliação e chegado à conclusão que a França é impopular em muitas das suas antigas colónias”.

Essa presença tem sido visível desde o início do conflito da Líbia, por exemplo, através do grupo militar Wagner, muito próximo do Kremlim, que já esteve noutros países, como na República Centro-Africana e Moçambique, e agora no Mali.

“Pode vir a ser mais importante ainda, com a problemática do gás”, aponta Gonçalves, quem, no entanto, assinala o facto de Vladimir Putin não ser muito bem visto no continente por ser “um Presidente autocrata” no momento em que há uma onda pela democracia em África.

No entanto, aquele investigador espera “novos movimentos” da Rússia junto de países dirigidos por militares, como no Mali, e também na República Centro-Africana.

Separatismo em ... África

Ao promover o separatismo na Ucrânia e noutros Estados da antiga URSS não próximos do Kremlin, Vladimir Putim pode activar também esse mesmo sentimento em África, onde, como lembra Jonuel Gonçalves, todos os países têm “problemas de particularismos internos”.

“O reconhecimento do separatismo por uma grande potência em África é sempre um estímulo ao separatismo africano, vimos isso durante a crise na Catalúnia e, portanto, agora estamos a sentir isso e estamos à espera dos efeitos”, adverte aquele investigador.

Entretanto, Jonuel Gonçalves volta a apontar uma dicotomia na aceitação de Putin junto das elites políticas africanas que não querem “estímulos ao separatismo”, embora essa posição da Rússia anime os defensores do separatismo.

No campo económico, os impactos devem sentir-se mais no aumento dos preços dos produtos importados pelos países africanos da Europa e da Ásia, cujas economias vão sentir os efeitos de uma eventual crise na produção e comercialização do gás, cujos aumentos no mercado chegaram, por exemplo, a 120 na Alemanha num ano.

Ouça a análise do investigador, escritor e analista político Jonuel Gonçalves na Agenda Africana, da VOA.

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