O antigo presidente moçambicano, Joaquim Chissano diz que tem de haver muito cuidado e ponderação, relativamente a uma eventual intervenção de forças militares de outros países no conflito em Cabo Delgado, para que não haja desastres no teatro de operações.
Para Chissano, essas forças têm que ser fortes.
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"Nós devemos dar maior capacidade às nossas próprias forças para combaterem os terroristas, e ter muito cuidado sobre que tipo de intervenção exterior, porque nem todos os que vêm de fora podem ter capacidade para fazer bom trabalho, e correm o risco de morrer", afirmou Chissano.
Algumas correntes de opinião têm sugerido que Moçambique deve pedir a intervenção de uma força das Nações Unidas em Cabo Delgado, mas Joaquim Chissano diz que o papel dessa força tem sido o de manutenção de paz, sem mandato de combater.
Veja Também Governantes dos Estados Unidos e do Zimbabwe debatem ajuda a Moçambique no combate a insurgentesChissano explicou que "têm que ser forças para combater, forças que conheçam o terreno e tenham experiência para uma guerra de guerrilha. Tudo isto são fatores que as autoridades devem avaliar, porque é preciso que quem vier seja forte, para que não haja desastre no teatro de operações".
Os russos não tiveram sucesso
O investigador Borges Nhamire, Centro de Integridade Pública, do compreende a posição do presidente Chissano como um pensamento dominante dentro da Frelimo e do próprio Estado, sendo por isso que Moçambique ainda não pediu a intervenção internacional. "É exactamente por causa desse medo".
Nhamire avançou que " primeiro é preciso ver quem é que há-de vir ajudar a combater o terrorismo, porque a cor da sua pele não pode ser diferente da população local".
"Há maior probalidade de a população local se posicionar ao lado daquele que tem a cor igual a da sua pele (...) os russos não tiveram sucessos no terreno; foram mortos e muitos deles abandonaram a zona", anotou aquele investigador.
Veja Também Criticado uso de mercenários na luta contra insurgentes em Cabo DelgadoA ajuda não é gratuita
Mas há também a questão ligada ao custo duma intervenção miliitar estrangeira, "porque a ajuda internacional não é gratuita, há sempre um pagamento que deve ser feito, e nem sempre a negociação desse pagamento é clara.
Para Nhamire, há sempre um preço muito caro a pagar, "que um Estado não pode assumi-lo de ânimo leve. O mais provável é que trazendo forças de um país para ajudar a combater em Cabo Delgado, onde o maior recurso que nós temos é o gás, que é preciso proteger, de volta, esse país vai querer gás sem pagar ou pagando um preço muito baixo. Portanto, há um risco que deve ser analisado de forma muito profunda".
O conflito em Cabo Delgado preocupa também a Assembleia da República, que defende maior capacitação das forças de defesa e segurança, tal como assumiu António Boene, Presidente da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade.
"Há necessidade de o Governo, permanentemente, aprimorar o profissionalismo das nossas forças armadas e também equipá-las condignamente, para fazer face à situação em Cabo delgado", defendeu Boene.
Entretanto, Nhamire disse que além das mortes e do preço duma intervenção militar estrangeira, coloca-se também a questão de quando é que essas pessoas vão sair, "porque não há um contrato com prazos certos".
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