Israel assume "controlo operacional" do lado palestiniano da passagem de Rafah

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Imagens do exército mostraram tanques com a bandeira israelita a assumir o "controlo operacional" do lado palestiniano da passagem de Rafah. Fotografia cedida à Reuters

Israel enviou tanques para Rafah, no sul da Faixa de Gaza, tomando o controlo do posto fronteiriço com o Egipto, numa operação que, segundo a ONU, lhe negou o acesso à passagem humanitária mais importante.

A investida dos militares no sector oriental da cidade, repleto de civis deslocados, ocorreu numa altura em que os negociadores e mediadores se encontravam no Cairo, no mais recente esforço para libertar os reféns e cessar-fogo na guerra que dura há sete meses.

Um alto funcionário do Hamas, que pediu o anonimato para discutir as negociações, avisou que esta seria a "última oportunidade" de Israel para libertar os 128 prisioneiros ainda detidos no território palestiniano, incluindo 35 que os militares dizem estar mortos.

Uma delegação do Hamas dirigir-se-á "brevemente" para o Cairo, disse o funcionário. Israel indicou ter também negociadores a caminho e o mediador Qatar anunciou que também enviaria uma equipa.

A operação de Rafah, há muito ameaçada, teve início horas depois de o Hamas ter anunciado, na segunda-feira, 6, que tinha aceite uma proposta de tréguas, o que levou multidões a saírem à rua, apesar de Israel ter afirmado que estava "longe" dos planos anteriormente acordados.

Abu Aoun al-Najjar, residente em Rafah, disse que a "alegria indescritível" que se seguiu à declaração do Hamas e as esperanças de um fim para a guerra tiveram vida curta. "Acabou por ser uma noite sangrenta", disse à AFP, pois mais ataques e bombardeamentos israelitas "roubaram-nos a alegria".

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O hospital do Kuwait declarou ter recebido os corpos de 23 pessoas e o hospital de Najjar registou mais quatro mortos. Mais tarde, o braço armado do Hamas afirmou ter disparado rockets contra as tropas israelitas em Kerem Shalom

As imagens do exército mostraram tanques com a bandeira israelita a assumir o "controlo operacional" do lado palestiniano da passagem de Rafah, segundo os militares, numa intervenção que teve um "alcance muito limitado contra alvos muito específicos".

O porta-voz do gabinete humanitário da ONU, Jens Laerke, afirmou que Israel lhe negou o acesso a Rafah e a Kerem Shalom - a outra principal passagem de ajuda humanitária de Gaza, na fronteira com Israel – e que existe apenas "um dia de combustível disponível" dentro do território sitiado.

A menos que o combustível seja autorizado a entrar, "seria uma forma muito eficaz de colocar a operação humanitária na sua sepultura", alertou.

Nas Nações Unidas, o Secretário-Geral António Guterres instou Israel a "parar qualquer escalada" e a reabrir "imediatamente" as passagens.

"O encerramento de ambos os pontos de passagem é especialmente prejudicial para uma situação humanitária já de si terrível", afirmou António Guterres, alertando que "um ataque em grande escala a Rafah será uma catástrofe humana".

C/AFP