A empresária angolana Isabel dos Santos revelou que os cerca de 900 mihões de dólares encontrados numa conta, já bloqueada na Suíça, do empresário Carlos São Vicente, proprietário da seguradora AAA, podem ser o resultado de vários anos de sobrefaturação aos seguros da companhia petrolífera estatal Sonangol.
A filha do antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que ocupou o cargo de presidente do Conselho de Administração da Sonangol durante 18 meses, acrescentou estar convencida que, para além de São Vicente, muitas outras pessoas terão beneficiado da prática de sobrefaturação.
Veja Também Investigação a Isabel dos Santos na HolandaNuma entrevista à radio MFM, de Luanda, centrada nos tempos em que liderou a empresa, entre junho de 2016 e novembro de 2017, Santos afirmou ter identificado e tentado resolver vários problemas entre as quais a sobrefaturação que levava a Sonangol a perder centenas de milhões de dólares anualmente.
Entre esses contratos estavam os com a seguradora AAA, de Carlos São Vicente, que detinha o monopólio desses seguros para a indústria petrolífera.
Isabel dos Santos contou que, de acordo com levantamentos feitos pela sua gestão, a Sonangol podia poupar 70 por cento com os seguros e, por isso, fez um novo contrato “com valores muito mais baixos”, com outra empresa.
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A ex-PCA da Sonangol revelou que a empresa pagou entre 400 e 500 milhões de dólares a mais por ano por seguros dos petróleos, o que ao longo dos 10 anos em que a petrolífera estatal foi parceira da AAA as perdas potenciais poderão ter atingido um total de quatro mil milhões a cinco mil milhões de de dólares.
Veja Também Sonangol responde nas investigações aos negócios do empresário São Vicente“Se esses 900 milhões, quase um bilião de dólares que estão nessa conta são dividendos das AAA, quanto é que a Sonangol ganhou de dividendos em relação à AAA e porque é que a Sonangol não acompanhou os aumentos de capital e se deixou diluir, se o negócio era bom”, questionou a empresária que afirmou não ter dúvidas de que muitas das campanhas na imprensa que considera serem fabricadas contra si devem-se à “coragem de parar muitos desses contratos” e “práticas nefastas”.
E denunciou: “Havia várias pessoas ligadas à Sonangol que beneficiavam desse tipo de esquemas. Quando acabámos com esse tipo de contratos, irritámos muita gente e acabamos por ser exonerados”.
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A filho do anterior Presidente voltou a dizer que que uma das tarefas que assumiu ao aceitar liderar a Sonangol, embora tivesse um custo político, era a de “combater a corrupção”, identificar para onde o dinheiro ia e porque é que a petrolífera perdia tanto dinheiro.
Ela disse ter apresentado um relatório e as medidas que pretendia apresentar tanto do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, como ao atual João Lourenço que, depois, a exonerou do cargo.
“O que me espanta é que, depois da minha exoneração, uma grande parte destes contratos que eu já tinha anulado foram outra vez renovados, alguns com as mesmas empresas ou se não com as mesmas empresas, com as mesmas pessoas, que criaram empresas novas e sempre com os mesmos preços altíssimos”, revelou Isabel dos Santos.
Recorde-se que a empresária responde a várias processos em Angola e Portugal, onde muitos bens e contas foram arrestadas.
Ela e o marido foram também alvo da reportagem conhecida por Luanda Leaks, divulgada em janeiro por um consórcio de jornalistas de todo o mundo que revelou os esquemas financeiros por eles usados e que terão lesado o Estado angolano em milhões de dólares.