O Irão vai realizar uma segunda volta das eleições presidenciais para substituir o falecido presidente Ebrahim Raisi, disse uma autoridade no sábado, 29 depois de uma votação inicial em que os principais candidatos não conseguiram uma vitória absoluta.
A eleição na próxima sexta-feira, 5 de Julho, colocará o candidato reformista Masoud Pezeshkian contra o ex-negociador nuclear Saeed Jalili, da linha dura.
Mohsen Eslami, porta-voz das eleições, anunciou os resultados numa conferência de imprensa transmitida pela televisão estatal iraniana. Segundo ele, dos 24,5 milhões de votos expressos, Pezeshkian obteve 10,4 milhões, enquanto Jalili recebeu 9,4 milhões. O Presidente do Parlamento, Mohammad Bagher Qalibaf, obteve 3,3 milhões de votos. O clérigo xiita Mostafa Pourmohammadi obteve mais de 206.000 votos.
A lei iraniana exige que o vencedor obtenha mais de 50% dos votos expressos. Caso contrário, os dois candidatos mais votados passarão a uma segunda volta uma semana mais tarde. Na história do Irão, só houve uma segunda volta das eleições presidenciais: em 2005, quando o candidato da linha dura Mahmoud Ahmadinejad venceu o antigo Presidente Akbar Hashemi Rafsanjani.
Veja Também Presidente do Irão morre em acidente de helicópteroEslami reconheceu que o Conselho de Guardiães do país teria de dar a sua aprovação formal, mas o resultado não suscitou qualquer contestação imediata por parte dos candidatos na corrida.
Tal como tem acontecido desde a Revolução Islâmica de 1979, as mulheres e os defensores de uma mudança radical foram impedidos de concorrer, enquanto a votação em si não terá qualquer controlo por parte de monitores reconhecidos internacionalmente.
A deputada Narges Mohammadi, Prémio Nobel da Paz, já tinha apelado ao boicote. Mir Hossein Mousavi, um dos líderes dos protestos do Movimento Verde de 2009, que permanece em prisão domiciliária, também se recusou a votar, juntamente com a sua mulher, segundo a sua filha.
Também tem havido críticas de que Pezeshkian representa apenas mais um candidato aprovado pelo governo. Num documentário sobre o candidato reformista transmitido pela televisão estatal, uma mulher disse que a sua geração estava a "caminhar para o mesmo nível" de animosidade com o governo que a geração de Pezeshkian tinha na revolução de 1979.
Raisi, de 63 anos, morreu no acidente de helicóptero de 19 de maio, que também matou o Ministro dos Negócios Estrangeiros do país e outras pessoas. Era visto como um protegido do líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei, e um potencial sucessor. No entanto, muitos o conheciam pelo seu envolvimento nas execuções em massa que o Irão levou a cabo em 1988 e pelo seu papel nas sangrentas repressões da dissidência que se seguiram aos protestos contra a morte de Mahsa Amini, uma jovem detida pela polícia por alegadamente usar indevidamente o véu obrigatório, ou hijab.
A votação decorreu num momento em que o Médio Oriente está sob tensão devido à guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.
Em abril, o Irão lançou o seu primeiro ataque direto de sempre contra Israel por causa da guerra em Gaza, enquanto os grupos de milícias que Teerão arma na região - como o Hezbollah libanês e os rebeldes Houthi do Iémen - estão envolvidos nos combates e intensificaram os seus ataques.
Entretanto, a República Islâmica continua a enriquecer urânio a níveis próximos do grau de pureza para armas e mantém uma reserva suficientemente grande para construir - se assim o desejar - várias armas nucleares.
Apesar da recente agitação, registou-se apenas um ataque por altura das eleições. Homens armados abriram fogo contra uma carrinha que transportava urnas de voto na província de Sistan e Baluchistão, no sudeste do país, matando dois agentes da polícia e ferindo outros, informou a agência noticiosa estatal IRNA. A província é regularmente palco de violência entre as forças de segurança e o grupo militante Jaish al-Adl, bem como entre traficantes de droga.