"O processo eleitoral foi um processo bastante fraudulento como já era de esperar", afirma o jornalista do Centro de Integridade e Pública (CIP), Lazaro Mabunda, em entrevista à VOA. Mabunda aborda, entre outras irregularidades, que muitos presidentes de mesa foram "indicados por uma lista clandestina do partido Frelimo", lembrando que são "pesssoas chave no processo de manipulação eleitoral".
"Havia pessoas a circular com boletins de voto com o voto na Frelimo, pessoas que votaram várias vezes." Mabunda acrescenta ainda que muitos observadores não "foram permitidos a ter acesso às salas de apuramento distrital", assim como jornalistas. "Em alguns distritos o apuramento foi feito de forma secreta e à revelia de alguns mandatários da oposição" e aponta várias "interrupções" e "adulteração dos resultados".
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A Renamo, principal partido da oposição em Moçambique, exigiu a anulação do apuramento dos resultados das eleições gerais em oito distritos da província da Zambézia. A Renamo alega que os seus delegados de candidatura foram impedidos de assistir à operação.
A missão de observação da União Europeia disse ter havido um “claro favorecimento” do partido no poder em Moçambique durante a campanha eleitoral, expondo inumeras irregularidades durante o processo eleitoral e falou em desconfiança.
“Há uma notável falta de credibilidade na fiabilidade dos cadernos eleitorais”, considerou a chefe da missão, Laura Ballarin, numa conferência de imprensa em Maputo. Ballarin avançou ainda ter sido constatado que "em várias províncias, estes reflectiam um número de eleitores superior ao total da população em idade de votar, de acordo com o recenseamento nacional".
“Os observadores relataram pilhas de boletins de voto dobrados em dez processos de contagem seguidos, indicando um possível enchimento de urnas”, referiu a missão.
As irregularidades foram apontadas tambem pelo Instituto Republicano Internacional (IRI), financiado pelos EUA, e os observadores da Commonwealth, que pediu aos “líderes dos partidos políticos e aos seus apoiantes para continuarem a mostrar contenção”.
Um dos principais candidatos da oposição, Venâncio Mondlane, 50 anos, avisou que “o regime vai fazer tudo para não perder as eleições”. “Estes dados são claramente falsificados e adulterados”, disse aos jornalistas, sem apresentar provas de fraude.
Frelimo deve "puxar" Renamo para segundo lugar
As alegações de fraude eleitoral não são incomuns em Moçambique. A oposição rejeitou os resultados das eleições presidenciais de 2019, que viram a Frelimo ganhar, e as eleições municipais de 2023 levaram a confrontos com várias pessoas mortas.
O jornalista da CIP, Lazaro Mabunda, acredita que a grande diferença nestas eleições e o facto de existir um candidato independente. "Os novos resultados mostram que a Renamo está a recuperar. O que pode acontecer é termos uma Renamo que é puxada pela Frelimo para ser novamente a segunda força política, para impedir que um partido como o Podemos seja a segunda força política, o que daria a Mondlane as ferramentas e capacidade financeira para se organizar para as próximas eleições" e "ameaçar de forma muito mais severa" o partido Frelimo.
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Mabunda crê que "a diferença percentual entre o Podemos e a Renamo será bastante reduzida".
Este sábado, 12, decorre a votação em 28 assembleias de voto que não abriram na quarta-feira, em Gilé e em Maganja da Costa, parte da Zambézia, e na Alemanha.
A CIP prevê que cerca de 80 a 90% dos resultados preliminares distritais sejam apresentados até ao final deste sábado.
c/ AFP