A possibilidade de investimento norte-americano no Corredor do Lobito, província angolana de Benguela, como aventou a Presidência dos Estados Unidos em comunicado, é vista como reconhecimento de que o perfil da linha-férrea do Porto Comercial à República Democrática do Congo (RDC) deve ser ajustado às locomotivas adquiridas à General Electric, paralisadas há alguns anos, indicam levantamentos feito pela Voz da América.
Reacções àquele que pode vir a ser o primeiro investimento em caminhos-de-ferro em África dentro da Corporação para Financiamento de Desenvolvimento Internacional (DFC), na ordem dos 250 milhões de dólares norte-americanos, referem ainda que Angola continua a receber sinais de que deve olhar mais para o seu tecido produtivo.
Contactada pela Voz da América a propósito de um assunto ainda em estudo de “deligência prévia”, fonte do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) acredita que o investimento venha a ser canalizado por via do consórcio que ficou com a gestão, exploração e manutenção do transporte ferroviário de mercadorias e logística do Corredor do Lobito, formado por três multinacionais.
Trata-se de um investimento que, segundo o presidente da Associação Industrial Angolana, José Severino, que tem associado os vários acidentes à qualidade da linha, tem em conta as locomotivas que chegaram precisamente dos Estados Unidos.
“Precisamos de um caminho de ferro eficiente, sem riscos de acidentes, para que possamos usar também as máquinas da General Electric, presumivelmente incompatíveis com o perfil da linha. A maior parte está paralisada, e precisamos de pegar no perfil da linha, dos carris. Foi pena termos feito sem atenção a isso, era necessário um perfil já internacional, de maior eficácia económica”, comenta aquele industrial.
Na criação da Agência para a Facilitação do Transporte de Trânsito do Corredor do Lobito, em Janeiro deste ano, o consórcio Vecturis, Trafigura e Mota Engil anunciou um investimento de 500 milhões de dólares, basicamente em infra-estruturas e meios rolantes.
O economista e consultor empresarial Janísio Salomão, a olhar para vantagens a níveis regional e do país, ressalta a existência de sinais que devem despertar o tecido produtivo angolano.
“A RDC precisa do peixe, do sal, do cimento, mas nada vai. Muito se fala da tão propalada diversificação da economia, só que muito pouco se faz. Temos de saber que a diversificação passa sobretudo pelo sector produtivo, mas o bolo dos orçamentos de Estado é irrisório”, avisa Salomão.
Da RDC, mesmo em comboios que circulam numa linha a clamar por ajustes em termos de perfil, chega ao Porto do Lobito sobretudo o manganês.
Angola precisa, no sentido inverso, de mostrar que tem potencial para competir, afirma José Severino, que defende a reposição do chamado “mapa cor de rosa”.
“Na economia colonial havia um comboio por dia, que era de sisal, havia outro de milho e feijão. Depois tínhamos … o grande tráfego que era internacional, o Catanga (RDC) e a Zâmbia. Havia ainda um comboio com dupla locomotiva carregado de pasta de papel e celulose”, recorda, acrescentando que “temos de repor tudo isso”.
O Banco Mundial (BM), actualmente em contactos com operadores privados, tem disponíveis 300 milhões de dólares para apoiar empresas ao longo do Corredor do Lobito, que compreende as províncias de Benguela, Huambo, Bie e Moxico, unidas por uma linha-férrea com 1330 quilómetros de extensão.
Abordado recentemente pela VOA, o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, assumiu ser necessário reforçar condições de segurança.
“O consórcio tem noção daquilo que é a condição da infra-estrutura, que está bem, mas precisamos de reforçar um conjunto de condições de segurança, isto para que tenhamos mais eficiência do que temos hoje”, assinalava o governante.
O Governo Provincial, segundo o seu vice-governador para a esfera técnica e de infra-estruturas, Adilson Gonçalves, espera que empresários da União Europeia, que estarão num Fórum de Negócios, em Benguela, ainda este mês, tenham em atenção as potencialidades do Corredor do Lobito.
Tudo não passa de uma possibilidade mas já se analisa um eventual cenário dali decorrente, que inclui mais aposta na produção interna
Benguela —