Congressistas que investigam a invasão do Capitólio do dia 6 de Janeiro de 2021 por apoiantes do então Presidente Donald Trump afirmam que o Comandante-em-Chefe optou por não agir por mais de três horas, enquanto milhares invadiam a sede do Congresso dos Estados Unidos na tentavia de bloquear a confirmação da vitória de Joe Biden nas eleições de Novembro de 2020.
"O Presidente Trump sentou-se à sua mesa de jantar e assistiu ao ataque pela televisão enquanto a sua principal assessoria, conselheiros mais próximos e familiares imploravam que ele fizesse o que se esperava de qualquer Presidente americano", disse a congressista Elaine Luria, membro do comité criado pelo Congresso para investigar o assalto, durante a audiência transmitida em directa pelas televisões na noite de quinta-feira, 21.
O representante republicano Adam Kinzinger, outro membro do comité, disse que Trump não agiu porque a “máfia" havia interrompido a certificação.
“A contagem (dos votos) parou completamente e acabou sendo adiada por horas. A multidão estava a cumprir o propósito do Presidente Trump, então é claro que ele não interveio”, disse Kinzinger, quem sublinhou que “o Presidente Trump não deixou de agir. ... Ele escolheu não agir”.
O comité de nove membros da Câmara dos Deputados que investiga o caos divulgou uma montagem de depoimentos em vídeo de importantes assessores da Casa Branca durante a Administração Trump e ouviu testemuhos ao vivo de mais dois antigos funcionários, para apoiar sua alegação de que Trump assistiu à insurreição na televisão e não fez nada para impedi-la durante horas.
No seu discurso de abertura, Bennie Thompson, o democrata que preside o comité, disse que "por 187 minutos, a 6 de janeiro, este homem [Trump] de energia destrutiva desenfreada não pôde ser movido pelos seus aliados, não pelos gritos violentos dos desordeiros, ou pelos apelos desesperados daqueles que enfrentraam a multidão. Ele não foi movido".
Comportamento "indefensável", disse Cheney
"Quinze minutos depois de deixar o palco (onde fez um discurso), o Presidente Trump sabia que o Capitólio estava sitiado e sob ataque", acrescentou Thompson.
A vice-presidente do comité, a congressista republicana Liz Cheney afirmou que Trump estava confiante de que poderia persuadir os seus apoiantes de que a eleição foi roubada, o que, segundo ela, significava que ele “explorava o patriotismo deles”.
Cheney descreveu o comportamento de Trump como “indefensável”.
Na audiência, os congressistas e a nação ouviram quinta-feira, 21, os depoimentos da então vice-secretária de imprensa Sarah Matthews e do ex-vice-assessor de segurança nacional Matthew Pottinger, que pediram a demissão no dia da insurreição em protesto contra a reacção de Trump.
"Ele estava a colocar gasolina no fogo", diz ex-vice-secretária da imprensa
Matthews forneceu detalhes do que viu na Casa Branca naquele dia e confirmou que Trump sabia que a violência havia eclodido e que escreveu no Twitter às 14h24.: "Mike Pence não teve coragem de fazer o que deveria ter sido feito para proteger o nosso país e a nossa Constituição, dando aos Estados a oportunidade de certificar um conjunto de factos corrigidos, não os fraudulentos ou imprecisos que lhes foram solicitados. EUA exigem a verdade!"
“Ele não deveria ter feito isso”, disse Matthews, para quem o então Presidente devia pedir “a essas pessoas para irem para casa, irem embora e condenar a violência”.
"Lembro-me de nós a dizer que essa era a última coisa que precisava ser twittada naquele momento. A situação já era má. E então, parecia que ele estava a colocar gasolina no fogo ao escrever isso no Twitter”, afirmou Matthews em depoimento num vídeo.
Por seu lado, o ex-vice-assessor de segurança nacional Matthew Pottinger disse ao painel que o tweet de Trump o levou a renunciar.
"Eu li esse tweet e tomei a decisão naquele momento de renunciar", afirmou também em depoimento em vídeo.
"Lembrem-se deste dia para sempre!", disse Trump
Testemunhos gravados anteriormente nas audiências, incluindo da filha de Trump, Ivanka Trump, conselheira da Casa Branca, confirmaram que o Presidente ignorou os seus pedidos para pedir aos seus apoiantes que parassem a invasão.
Nesse dia, por volta das 16 horas, Donald Trump finalmente divulgou uma declaração gravada em vídeo em que pediu aos invasores para deixarem o Capitólio.
Mais tarde, noutro twitt justificou as acções dos invasores.
"Estas são as coisas e eventos que acontecem quando uma vitória eleitoral esmagadora sagrada é tão sem cerimónia e cruelmente despojada de grandes patriotas que foram mal e injustamente tratados por tanto tempo", escreveu ele.
"Vão para casa com amor e em paz. Lembrem-se deste dia para sempre!", concluiu.
A audiência pública do comité de ontem à noite estava anunciada como sendo a última, mas agora os seus membros dizem que podem realizar mais uma em Setembro, antes da apresentação do relatório final.