Angola: Interrogatórios forçam suspensão de programas informativos do canal Camunda News

Estúdio do canal Camunda News, Luanda, Angola

Proprietário diz ter sido interrogado sobre a legalidade do canal, Sindicato dos Jornalistas Angolanos e UNITA criticam postura das autoridades

O canal angolano de televisão digital Camunda News, que emite seus conteúdos no YouTube e demais redes sociais, suspendeu a emissão de conteúdos de natureza informativa e política por um período indeterminado depois de o seu proprietário, David Boio, ter sido alvo de vários interrogatórios pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC).

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Canal angolano no Youtube suspende operações por alegado assédio do SIC -2:38

O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) e a União Nacional Para a Independência Total de Angola (UNITA), na oposição, condenam o que consideram de perseguição das autoridades angolanas a órgãos alternativos.

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A suspensão foi anunciada pelo proprietário do canal, o empresário David Boio, depois de ter sido interrogado pela segunda vez pelo SIC na condição de declarante, num processo em que é arguido, o DJ e activista Nelson Dembo, mais conhecido por "DJ Gangsta", que, até então, apresentava o programa denominado 360º Podcast.

"A nossa reacção neste sentido é apenas por estarmos constantemente a ser notificados pelo SIC, que quando somos notificados começam a fazer questões que não tem nada a ver e para nós isso é complicado”, afirma Boio, acrescentando que os interrogatórios estiveram virados para a legalidade do canal.

Ele considera que este não é um momento propício para a divulgação de programas informativos.

Sem precisar se está ou não a ser perseguido, David Boio diz não entender a reacção das autoridades quando não existe na legislação qualquer impedimento para o exercício de transmissão de conteúdos no YouTube e nas demais redes sociais.

“Quando um órgão daquele está sempre a dizer que estamos sempre ilegais, é ilegal, é ilegal, quando nós sabemos que eles sabem que não é nenhuma prática ilegal, isso causa-nos algum receio”, conlui Boio.

Entretanto, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (STJ) já veio a público condenar a actuação do SIC e considera que o quadro de liberdade de imprensa em Angola de “asfixiante”.

“O Sindicato descreve o quadro actual da liberdade de imprensa, em Angola, de asfixiante para os jornalistas e os órgãos detidos por privados e denuncia o recrudescer da censura nos órgãos públicos”, afirma o secretário-geral Teixeira Cândido.

Por seu lado, o Grupo Parlamentar da UNITA também condenou a perseguição contra os jornalistas e promete solicitar uma audição parlamentar com carácter de urgência aos ministros do Interior e da Comunicação Social "para obter esclarecimentos destes titulares para que se ponha cobro às ameaças às liberdades dos profissionais da comunicação social angolana, um pilar fundamental do Estado Democrático e de Direito”.

Aquela bancada parlamentar da oposição diz que “solidariza-se com todos os profissionais da Camunda News e demais órgãos de comunicação social e reitera a sua disponibilidade, comprometimento e empenho para a dignificação da classe jornalística e o livre exercício da sua atividade nos marcos da Constituição e da lei”.

A VOA contactou o superintendente Manuel Alaiwa, director do Gabinete de Comunicação e Institucional do SIC, que prometeu pronuncia-ser a qualquer momento, mas até agora não o fez.