A vila de Palma, a norte da província moçambicana de Cabo Delgado, continua a registar focos de ataques de insurgentes, forçando a contínua fuga de residentes, reporta a imprensa de Maputo.
Os focos são a continuidade do ataque mortífero de 24 de Março, que provocou uma nova vaga de deslocados e originou a paralisação das operações milionárias de exploração de gás natural da multinacional francesa Total.
Veja Também Cabo Delgado: Promessa de retorno da Total remete à cautela, consideram analistasMuitos dos que agora fogem do distrito desembarcam em Pemba, a capital da província, já sem capacidade para albergar mais deslocados.
Eles viajam principalmente por via maritima e em condições descritas como inseguras.
Entrevistada pelo “O País”, de Maputo, uma das deslocadas, Mariamo Tchimbuata, disse que fugiu de Palma “porque a guerra continua”.
“As pessoas são decapitadas e as casas incendiadas”, acrescentou Tchimbuata ao diário, em Pemba.
Outros deslocados contaram que o grupo aliado ao Estado Islâmico controla parcialmente a vila de Palma, à qual a imprensa não tem praticamente acesso para uma verificação independente da situação.
Governo desmente uso de minas terrestres
Outra denúncias apontam para a existência de minas terrestres, alegadamente colocadas pelas Forças de Defesa e Segurança.
Entretanto, o Ministério da Defesa Nacional reagiu de imediato, dizendo que essas acusações são falsas.
O porta-voz Omar Saranga disse em conferência de imprensa que "registou relatos sobre a utilização de minas terrestres pelas Forças de Defesa e Segurança", mas que "importa destacar que Moçambique assinou o Tratado de Ottawa sobre a proibição de uso, armazenamento, proibição e transferência de minas anti-pessoais e sobre a sua destruição em Dezembro de 1997".
Ele garantiu que desde 1 de Dezembro de 2015 Moçambique foi declarado país livre de minas terrestres e que o Governo "tem sido e continuará fiel a este princípio".
"Estas explosões, é verdade, só podem ser obra dos terroristas”, concluiu o pota-voz, depois de dizer que "os ataques contra os terroristas prosseguem e visam garantir a segurança das populações, seus bens e bens públicos, bem como repor a normalidade.
Veja Também ACNUR volta a pedir a Tanzânia para não deportar mocambicanos à forçaNum ataque de finais de Maio, segundo o portal “Carta de Moçambique”, foram mortas 10 pessoas – cinco por decapitação – em Quiwiya, Palma.
Os sobreviventes disseram que as vítimas estavam escondidas no mato.
Esta vaga contínua de ataques ocorre quando grupos de ajuda humanitária lamentam a recusa da Tanzânia em aceitar mais deslocados moçambicanos, e manifestam preocupação após a divulgação de relatórios sobre o recrutamento de crianças e mulheres para as fileiras dos insurgentes.
Veja Também É possível dialogar com os insurgentes que aterrorizam Cabo Delgado, diz Muhamad Yassine, analista políticoEntretanto, nos próximos dias, a SADC, grupo de estados da África Austral, volta a debater em torno da resposta à insurgência, havendo sinais de duas perspectivas, mas ainda sem consenso.
Uma perspectiva, defendida pela Tanzânia, sugere o diálogo com o grupo insurgente, que Maputo diz não ter rosto; e outra, expressa pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, promove a ideia de intervenção militar regional.
O Governo de Nyusi diz-se aberto ao apoio, mas que fará a sua decisão entanto que soberano.
Recorde-se que esta insurgência que se tornou visível a partir de 2017 provocou a morte de mais de 2.000 pessoas, outras 800 mil fugiram das suas zoanas, e várias infraestruturas foram destruídas ou vandalizadas.
Veja Também "Troika" da SADC decide no dia 23 ajuda a Moçambique no combate à insurgência