Um grupo armado invadiu a tiros no início da manhã desta sexta-feira, 10, e desde o início da tarde, mantém o controlo da vila sede distrital de Macomia, em Moçambique, após intensos confrontos com as forças estrangeiras e moçambicanas, que combatem o terrorismo na província de Cabo Delgado.
Os ataques foram denunciados por moradores, que falaram com a Voz da América, e entretanto confirmados pelo Presidente da República.
Os insurgentes “desativaram” os dois quartéis das Forças de Defesa e Segurança (FSD) moçambicanas e da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), que mantinham o cordão de segurança da vila sede distrital, antes de avançar para a destruição de habitações e infraestruturas públicas, além do saque de bens alimentares.
A maioria da população está refugiada nas matas.
“A situação é péssima, estão a disparar. Houve uma pausa entre as 11 e as 12 horas, talvez porque iam à mesquita rezar, mas houve agora disparos em Chinavane e assim estão a entrar e a disparar na sede”, contou à Voz da América Momad Ali, um morador local que, como outros, está refugiado nas matas.
“Não é como na primeira vez. Desta vez é pior”, precisou Ali, em alusão à primeira invasão e ocupação da vila pelos insurgentes, em maio de 2020. Vários relatos de moradores indicam que a população está desesperada. Além de disparos, vê-se bastante fumo na vila, sede distrital.
Veja Também Cabo Delgado: Milícia "Força Legal" invade esconderijo e mata 10 insurgentes“Os insurgentes estão a disparar de todo o lado. Estão em todos os bairros da vila e desta vez é muito forte”, disse uma outra moradora, refugiada com sua família na mata, desde a madrugada.
“Ninguém conseguiu fugir com ninguém. Foi uma surpresa”, vincou, sem querer identificar-se, contando que também foram vistos vários militares moçambicanos e estrangeiros “espalhados de qualquer maneira”.
Presidente da República confirma
Entretanto, o Presidente da República confirmou, em Maputo, o ataque terrorista à sede distrital de Macomia, assegurando que a invasão está a ser combatida pelas FDS.
“Os insurgentes por volta das 4:00 estavam a entrar em Macomia (...). Apanharam uma resistência muito forte, durou quase 45 minutos com os meus jovens (força moçambicana)”, precisou Filipe Nyusi, durante uma cerimónia pública em Maputo.
O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, também confirmou o ataque em Chimoio, a capital de Manica, durante o lançamento das celebrações dos 49 anos da criação da corporação, que decorre hoje.
“Estamos numa guerra. Há informações e eu também recebi informações do ataque à sede de Macomia”, afirmou Bernardino Rafael, remetendo detalhes para mais tarde.
O ataque desta madrugada ocorreu numa zona antes controlada pela força da missão regional da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, SAMIM, que está em progressiva retirada até julho.
Em 2020, os insurgentes atacaram e ocuparam a sede distrital de Macomia, após terem ocupado outras três sedes distritais, nomeadamente Mocímboa da Praia, Quissanga, e Muidumbe, em abril desse ano.
Os primeiros ataques da insurgência em Cabo Delgado, posteriormente reclamados pelo autodenominado Estado Islâmico, aconteceram em outubro de 2017.