Indignação e acusações em Maputo devido à morte de Gilles Cistac

Vigília em homenagem a Gilles Cistac, Maputo, Moçambique

União Europeia condena atentado e jornais usam manchetes fortes.

O presidente da Renamo não tem dúvidas de que o constitucionalista e professor universitário Gilles Cistac, assassinado ontem em Maputo, foi morto por “radicais da Frelimo” que, segundo ele, se sentiram "chocados e incomodados" com as posições do jurista.

"Eu quero acreditar que os radicais da Frelimo sentiram-se chocados e incomodados com o facto de estar a defender um caso do povo moçambicano", disse Afonso Dhlakama em declarações à imprensa após um comício, ontem, 3, na província de Niassa.

"Quero lamentar a morte daquele homem, não quero acusar ninguém, mas também não restam dúvidas que a morte dele se deveu ao seu posicionamento, quando nós da Renamo, após as eleições, começámos a reclamar da fraude que houve", declarou Dhlakama, em referência a opiniões de Cistac que via com bons olhos a proposta de criação de regiões autónomas defendida pelo líder da Renamo.

Por seu lado, a União Europeia (UE) considerou hoje o assassínio do constitucionalista moçambicano um "ataque à liberdade de expressão".

"Este assassinato é um ataque à liberdade de expressão. A União Europeia exorta as autoridades e todos os cidadãos a usarem o diálogo e meios pacíficos no discurso político", refere o comunicado da EU.

O embaixador da França em Moçambique, Serge Segura, disse hoje, 4, em Maputo que a embaixada francesa em Moçambique vai prestar todo o apoio técnico para que a família Cistac consiga os vistos para vir a Moçambique o mais rapidamente possível, para acompanhar de perto todo o processo das cerimónias fúnebres.

Sege afirmou que não sabe se o enterro será realizado em Moçambique ou na França, pois a decisão cabe à família.

Ontem à noite, centenas de pessoas, entre advogados, colegas, amigos, activistas sociais e estudantes, reuniram-se no local onde Gilles Cistac foi baleado numa homenagem, durante a qual foram depositadas flores e velas e entoados hinos.

O muro da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, onde Cistac era professor, está decorado com flores por estudantes e colegas impressionados com o crime.

Nesta quarta-feira, os jornais moçambicanos dedicaram as suas primeiras páginas ao assassinato do constitucionalista.

“Frelimo de assassinos" é a grande manchete do semanário Canal de Moçambique que, nas páginas interiores, sustenta o seu dedo acusado ao partido no poder, com declarações de comentadores afectos à Frelimo vistos como hostis a Gilles Cistac.

“Terrorismo” é a grande manchete do diário O País, matéria que ocupa as principais páginas do jornal.

O diário electrónico Mediafax pergunta "A Ordem para fuzilar: De Onde veio?". No interior, o jornal escreve "Cobardes mataram Gilles Cistac", que foi descrito como "homem de opiniões firmes e demasiadamente mal visto pelo poder do dia".

Por sua vez, o jornal estatal Notícias publica a foto de Cistac deitado no chão e ainda ensanguentado, com o título: "Assassinado Prof. Gilles Cistac". O texto traz a declaração de António Gaspar, prota-voz do Presidente: "Responsabilizar os criminosos".

O constitucionalista Gilles Cistac foi baleado ontem, 3, na cidade de Maputo quando saía de uma pastelaria e morreu no Hospital Central de Maputo.

Cistac foi baleado por quatro indivíduos que se faziam transportar numa viatura que passou pelo café. Segundo a polícia, três eram de raça negra e uma de raça branca, sendo esta última quem atirou no jurista.

Na semana passada, o académico de origem francesa anunciou que ia processar um homem que, através do Facebook e com o pseudónimo Calado Kalashnikov, acusou Chistac de ser um espião francês que obteve a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.

Em resposta, Gilles Cistac apresentou uma queixa à Procuradoria Geral da República, por considerar que estava a ser vítima de intolerância política.