Tal como acontece em muitos países com um mercado publicitário pobre e reduzido, na Guiné-Bissau os profissionais da imprensa descrevem um cenário onde há falta de tudo.
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Desde a falta de recursos básicos, como equipamentos e internet, a salários muito baixos, aliados ao medo das pessoas em emitir opiniões, que ficam por conta dos políticos, quando lhes interessa.
Veja Também Imprensa: Profissionais são-tomenses queixam-se de falta de acesso às fontes, recuros e autocensuraGeraldo Suleimane Camará, jornalista da Rádio Regional “Leste FM”, baseada em Gabú, diz que até para enviar uma peça há dificuldades em conseguir a internet, por razões financeiras, associadas à carência de equipamentos.
“Falta de materiais e meios financeiros me coloca em posição de desconfiança para com o entrevistado, que precisa ouvir o conteúdo das suas declarações. E também mesmo querendo enviar as minhas peças tenho que solicitar a outra pessoa para ajudar na obtenção da internet”, lamenta Camará.
Veja Também Tribunal absolve jornalista angolano Francisco RasgadoMais a Sul, em Buba, Mamandim Indjai, da Rádio Papagaio, aponta para “falta de meios de transportes para deslocações às tabancas e rádios gravadores para reportagens”.
“Eu uso mais o meu telefone para as gravações”, acrescenta aquele jornalista que, tal como outros, enfrenta a difícil realidade dos profissionais da imprensa guineense.
Este cenário não é diferente na capital Bissau, como diz Epifania Fernandes, do jornal “O Democrata”.
“Às vezes, num computador são três ou mais pessoas para fazer fila, conforme a chegada, a não ser que tenhas o teu computador pessoal e gravador. Não podemos culpar os órgãos, tendo em conta as dificuldades financeiras que enfrentam”, afirma a jornalista, que aponta ainda o baixo salário dos jornalistas que também afecta o seu desempenho.
“Para não dizer miserável, mas nem a 100 euros chega. Também não é pago regularmente. Às vezes, o órgão fica três ou quatro meses sem poder pagar o salário. Contudo, é compreensível devido às dificuldades que atravessam”, acrescenta Fernandes.
E, contrariamente ao que diz a Constituição da República, o acesso às fontes de informação tem sido outro dos obstáculos ao exercício da profissão na Guiné-Bissau.
Mamandim Indjai diz ser “uma aberração total por parte das autoridades locais”.
Por exemplo, explica, “várias vezes, as nossas fontes têm que pedir o anonimato, e em algumas delegacias para que os responsáveis possam prestar declarações tem que ser mediante uma autorização do ministro da tutela, e isto não favorece o exercício livre da liberdade de expressão e de imprensa".
Epifania Fernandes, alinha pelo mesmo diapasão, dizendo que “ao se chegar uma aldeia é um problema ter a pessoa disponível para dar um esclarecimento sobre um assunto, e se o faz é por conveniência partidária".
Geraldo Suleimane Camará sublinha que a população prefere denunciar os factos, sob a condição de anonimato por temer retaliações e por isso, “é mais fácil obter informação junto às fontes partidárias, sobretudo quando lhes convém".