A antiga ministra da Justiça da Guiné-Bissau, Ruth Monteiro, diz haver uma profunda ligação entre as autoridades do país e traficantes e terroristas.
Em entrevista à VOA, em reação à procupação manifestada nesta semana pelos Estados Unidos sobre a situação do tráfico de droga e liberdade de expressão no país, a integrante do anterior Governo do PAIGC garante que a situação é muita crítica.
“E não é apenas a questão do tráfico que me preocupa, mas também a questão do terrorismo ligado ao tráfico de droga”, aponta Monteiro, quem afirma congratular-se com as declarações de Heather Merritt, sub-assistente do secretário de Estado para o Escritório de Narcóticos e Assuntos Legais dos Estados Unidos na terça-feira, 21.
“A Guiné-Bissau é um dos pontos em que os Estados Unidos estão atentos. Foi um problema durante muitos anos como palco do narcotráfico”, disse Merritt, quem reiterou estarem os Estados Unidos preocupados com o tipo de Governo que está a ter e com o esforço que ele está a fazer ou não para prevenir o tráfico de droga”.
"Pessoas referenciadas como terroristas e traficantes"
Heather Merritt acrescentou ainda a sua preocupação com a saída da anterior ministra da Justiça, Ruth Monteiro, e da diretora-geral da Polícia Judiciária, Filomena Lopes, às quais deu parabéns pelo "excelente trabalho".
Ruth Monteiro diz que “no primeiro voo que chega a Bissau depois do golpe de Estado desembarcaram muitas pessoas referenciadas como terroristas, provenientes do Afeganistão, do Paquistão, do Iémen, do Curdistão, além de traficantes de Drogas e outras, duas creio, ligadas à burla e imigração ilegal, todos referenciados pela polícia e pelos parceiros da Guiné-Bissau”.
A antiga ministra da Saúde, atualmente a viver em Portugal, garante que essas pessoas, que diz serem terroristas e ligadas ao tráfico de droga “estão livres, frequentam os hotéis, por vezes são os únicos hóspedes dos hotéis”.
Monteiro revela ainda que o principal suspeito de tráfico de duas toneladas de droga “circula livremente por Bissau, chegou nesse mesmo voo guardado por militares, vivendo em casa de alguém que foi nomeado por este Governo como diretor-geral”.
Para ela “é uma promiscuidade, a profunda ligação que existe entre as autoridades que se instalaram no poder pela força e traficantes e terroristas”.
Terroristas ligados ao Magreb Islâmico
Monteiro diz haver uma ligação direta “entre os traficantes de droga e terroristas do Magreb Islâmico, ligados à al-Qaeda, fizeram votos de fidelidade, e são eles que estão a beneficiar do tráfico de droga que passa pela Guiné-Bissau”.
A antiga governante afirma não poder “dissociar as coisas” quando o poder, segundo ela, foi capturado pela força das armas, num processo “liderado por alguém que tem um mandado de captura internacional por tráfico de droga e terrorismo, um militar procurado pelos Estados Unidos como traficante e terrorista”.
Questionado se o antigo Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, António Indjai, que liderou o golpe militar de 2012, Ruth Monteiro afirma que “ele deu a cara na posse de Nuno Nabian”, depois de “estar desaparecido da circulação e dos meios políticos e sociais”.
“Aparece ele, o Chefe de Estado-Maior Biaguê Na N’Tam e todos os demais do Ministério do Interior que cercaram os ministérios, o Supremo Tribunal de Justiça e, é bom que isso seja dito, cercaram o Palácio da Justiça para que não fosse proferida nenhuma decisão”, na altura da posse de Úmaro Sissoco Embaló como Presidente a 29 de fevereiro.
Financiamento do terrorismo
A droga que passa pela Guiné-Bissau não é consumida no país, mas vai para a Europa.
Entretanto, Ruth Monteiro alerta que “o dinheiro financia o terrorismo, que pode afetar os Estados Unidos e outros países da África Ocidental” e sublinha que “temos um país com portas abertas para acolher este tipo de criminalidade”.
Na entrevista, a antiga integrante do Governo do PAIGC aborda o reconhecimento da CEDEAO que para ela “viola todos os tratados”, bem como o processo que se encontra no Tribunal de Justiça da organização regional e das pressões para que “o Supremo Tribunal de Justiça dê razão a Úmaro Sissoco Embaló”.
Liberdade de expressão em causa
Na conferência telefónica da passada terça-feira, Heather Merritt, sub-assistente do secretário de Estado para o Escritório de Narcóticos e Assuntos Legais afirmou também que os Estados Unidos estão preocupados "liberdade de expressão" na Guiné-Bissau.
Ruth Monteiro garante que "não há liberdade de expressão, as pessoas, se falam, são espancadas, são detidas, as pessoas vivem com medo, os jornalistas não podem falar, há uma rádio que teve as suas instalações violadas e invadidas por veiculos que identificamos como pertencendo às autoridades”.
A VOA tentou sem sucesso, até agora, obter uma reação do Governo às declarações da antiga ministra da Justiça, Ruth Monteiro, e das autoridades americanas.
Acompanhe aqui a entrevista:
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