A Plataforma Sul, uma coligação oficiosa de organizações da sociedade civil e instituições religiosas, voltou a apelar nesta quarta-feira, 20, no Lubango, para a necessidade de se juntar sinergias para acudir à situação da seca e fome que afectam milhares de pessoas nas províncias angolanas do Cunene, Namibe, Cuando Cubango e Huíla.
Para os participantes da terceira Conferência Regional-Sul, de dois dias encerrada nesta quarta-feira 20, apesar de algum silêncio sobre a situação nos últimos tempos, o quadro continua a ser severo e exige acções concretas para inverter o cenário agravado pelas alterações climáticas.
Veja Também Angola: Crise alimentar continuará no Sul pelo menos até SetembroO secretário-geral da Comissão de Justiça e Paz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, (CEAST), padre Celestino Epalanga, lembra que é preciso encarar a realidade e saber conviver com ela.
“Que não sejamos surdos nem cegos a esta realidade e este fenómeno existe. Estamos aqui para advogar, falamos muito sobre a necessidade de o Governo declarar o estado de emergência para esta zona, o Governo achou que não era necessário fazê-lo, mas temos índices elevadíssimos de mal nutrição não só nas crianças mas nos idosos também", afirmou o padre, para quem "é triste nos Gambos e Cunene ver pessoas em pele e osso, tanto idosos e crianças, sobretudo".
Veja Também Governo angolano não declara estado de emergência no Sul e líder católico alerta para "catástrofe""Como reduziremos este índice de crianças com mal-nutrição, que já não podem ir à escola? Porque não é possível ir à escola quando não se tem nada para comer, não é possível!”, lembra o seretário-geral da CEAST.
Para o investigador do escritório da Amnistia Internacional (AI) na África Austral, David Matsinhe, também presente na conferência, os problemas das alterações climáticas se têm revelado bastante severos para as comunidades da região.
Matsinhe diz que estes problemas têm grande impacto na protecção dos direitos humanos.
Veja Também Fome alastra-se em Angola, revela estudo em várias províncias do país“É muito importante que as organizações da sociedade civil se envolvam na protecção das comunidades, porque no ponto de vista da AI mudanças climáticas são problemas de direitos humanos. O direito à alimentação, direito à saúde e o direito à água e ao ambiente saudável são direitos fundamentais que a sociedade civil deve proteger deve levar a cabo campanhas de advocacias para pressionar os governos da África Austral, neste caso o governo de Angola para que ponha políticas de protecção destes direitos”,sustentou aquele investigador.
O Governo angolano afirma ter concebido um programa de Combate aos Efeitos da Seca no Sul do país com a duração de execução de 74 meses, orçado em mais de 5 mil milhões de dólares.