Huambo: Familiares de civis mortos em 2023 durante manifestações clamam por justiça

  • Norberto Sateco

Manifestação contra aumento da gasolina no Huambo, 5 junho 2023

Representante das famílias das vítimas diz que dezenas de polícias foram constituídos arguidos mas estão em liberdade

A Procuradoria-Geral da República (PGR), na província angolana do Huambo, constituiu arguidos, na semana passada, dezenas de efetivos da polícia, acusados de envolvimento na morte de nove civis no ano passado, aquando de manifestações realizadas contra o aumento do preço da gasolina.

A informação avançada por um dos representante legais das famílias das vítimas não adianta datas sobre o início do interrogatório, mas fez notar que os acusados respondem em liberdade.

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Huambo: Familiares de civis mortos em 2023 durante manifestações clamam por justiça


A Voz da América contatou a PGR no Huambo, mas negou fazer qualquer pronunciamento, alegando segredo de justiça, uma vez que o processo encontra-se em fase de diligências.

Depois dos familiares das vítimas e testemunhas terem sido ouvidos em meados de 2023, as autoridades deverão agora avançar com o interrogatório de dezenas de agentes envolvidos.

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Tchipilica António, um dos representantes legais das famílias, diz que os efetivos da polícia já foram "constituídos arguidos" e que agora é importante avançar-se para a fase do interrogatório.

"O processo é complexo, pois não tinham aberto nada, não havia nenhuma tramitação a decorrer", explica Tchipilica.

O caso que se arrasta desde julho do ano passado, na sequência da morte de nove civis em confrontos com efectivos da polícia, durante as manifestações de 5 junho, na cidade do Huambo, contra o aumento do preço da gasolina.

Em consequência, a organização não governamental de defesa dos direitos humanos Omunga entrou com uma queixa-crime contra os efectivos da polícia junto à PGR.

O seu diretor, João Mavindele, afirma que o silêncio das autoridades constitui a maior preocupação, em meio à morosidade nas investigações.

"A investigação conhece alguma morosidade consentida, que demonstra não existir vontade política ou jurídica para dar segmento ao caso", aponta.

Para quem perdeu um irmão como Anacleto, a esperança de ver responsabilizados os implicados e a indemnização das famílias enlutadas permanece, apesar de querer esfumar-se com o arrastar do tempo.

" Nenhum polícia foi julgado, todos andam soltos, tudo ficou pelo off. Mataram e ponto final", lamenta Anacleto.

Em relação ao inquérito instaurado pelo ministério do Interior, o porta-voz da corporação contactado pela Voz da América pouco ou nada adiantou em relação ao caso.

No seu mais recente relatório, a Omunga concluiu que houve intenção de matar civis, com uso desproporcional de meios pela polícia, enquanto as autoridades não reconhecem a alegada brutalidade dos órgãos de defesa e segurança de dizer que apenas procuraram dispersar manifestantes e repor a ordem.