Com quase três séculos de história de emigração para os Estados Unidos, os cabo-verdianos constituem uma das mais sólidas comunidades na América do Norte, com uma longa tradição de ligação à sua história e cultura.
O crioulo foi uma das primeiras línguas estrangeiras a ser ensinada nas escolas americanas, nomeadamente no Estado de Massachussets, e a origem da emigração de cabo-verdianos para os Estados Unidos está intimamente ligada a uma importante etapa da história americana: a pesca da baleia no Atlântico.
Com várias gerações de descendentes, presentes nos mais diversos campos da vida política, social, económica, associativa, cultura, surge, cada vez mais, o interesse pela história das ilhas e sua cultura.
A língua cabo-verdiana, o crioulo, a história, a obra e vida de Amílcar Cabral, a imigração, a cultura, são alguns dos muitos temas que levam descendentes de cabo-verdianos e americanos a procurar informações sobre o aquipélago e os primeiros imigrantes.
Na cidade de Providence, no Estado de Rhode Island, encontra-se o Cape Verdean Museum Exhibit, uma instituição privada criada em 2005 por cabo-verdianos e descendentes, o único museu exclusivamente dedicado ao arquipélago.
“Criamos o museu para contarmos a nossas história da nossa maneira, na nossa óptica”, explica a professora e investigadora Virgínia Goncalves, a impulsionador da iniciativa.
Ivonne Smart, filha de cabo-verdianos nascida nos EUA e voluntária no museu, revela que pessoas de 32 nacionalidades e de quase todos os Estados americanos já passaram pelo local, cujo acervo cresce graças às doações, "desde uma carta a uma escultura, tudo serve".
“Estudantes de todos os níveis de ensino, professores, investigadores e descendentes que querem conhecer as suas origens procuram o museu”, que funciona também de forma gratuita.
Curioso, "ou talvez não", como explica Virgínia Gonçalves, é que o Cape Verdean Museum Exhibit é mais visitado por americanos do que por cabo-verdianos.
"Os cabo-verdianos, principalmente os que emigraram, não conheciam museus e não têm este hábito”, justifica a professora.
A emigração das ilhas para os Estados Unidos começou nos meados do século 18, com a pesca da baleia.
Os baleeiros americanos iam pelo Atlântico Sul e paravam em Cabo Verde para se abastecerem de água e alguma comida.
No regresso traziam muitos cabo-verdianos conhecidos por serem bons marinheiros.
O maior museu da baleia do mundo, o Whaling Museum, está na cidade de New Bedford, onde a comunidade cabo-verdiana se concentrou há mais de dois séculos.
Nesse museu, "está também grande parte da história de Cabo Verde", como diz Carlos Almeida, professor universitário e um dos conselheiros académicos do Whaling Museum.
“Pode-se conhecer a história da emigração para os Estados Unidos, tanto de cabo-verdianos como de açoriano,s através dos materiais que o museu possui e de exposições, como agora, em que temos uma sobre marinheiros daqueles dois arquipélagos”, explica Almeida.
O director do Whaling Museum James Russel destaca a importância dos "marinheiros cabo-verdianos, não só na faina da pesca da baleia, mas também na construção de uma cidade multicultural, ao trazer a sua cultura, música, gastronomia e calor humano".
Além de receber muitos eventos da comunidade cabo-verdiana, o museu tem um estreita cooperação com o Ministério da Cultura de Cabo Verde, com o qual trabalha neste momento na criação do Museu do Mar em São Vicente.
Acompanhe o segundo capítulo da série Diáspora da América:
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