Ver os olhos vivos e o sorriso de Yusra Mardini, refugiada síria que depois de ter naufragado no Mar Mediterrâneo nadou por três horas até chegar a terra firme, retira todo o cansaço de 12 horas consecutivas de trabalho. Yusra é uma das caras da equipa olímpica de refugiados (OTR, na sigla em inglês), talvez por ser a mais jovem, 18 anos, por esbanjar simpatia e por ser quem melhor se expressa em inglês.
Ela integra essa equipa dos “grandes campeões” das Olimpíadas de 2016, como é apelidada pelos dirigentes olímpicos e pela imprensa que, apesar da necessária isenção ou independência editorial, não se recusa a aplaudir nem prestar a devida vénia a esses heróis.
Yolanda Bukasa, judoka congolesa que foi abandonada no hotel no Brasil pelo seu técnico e passou fome até conseguir o estatuto de refugiada, não se ri, tem a cara fechada, revelando alguma dor que, no entanto, ela transforma em “força para vencer e para mostrar que nós refugiados somos seres humanos e podemos fazer tudo o que os demais fazem”, como me disse na conferência de imprensa na terça-feira.
“Olho para o meu futuro e é por ele que luto ”, retoca Yolanda, enquanto o seu compatriota e também judoca, Popole Misenga, é o esbanja sorriso e simpatia do grupo. “Estou feliz no Brasil, vivo feliz na favela, com a minha mulher e agora um filho, todos brasileiros”, disse-me Popole.
Ao chegar à Vila Olímpica para a cerimónia de boas-vindas, a ORT foi cercada pelos profissionais da imprensa, todos queríamos uma foto, uma palavra, mas a segurança apertada e a organização não poucas vezes nos advertiu “por favor, deixem que gozem dessa cerimónia”.
Ainda assim, um jornalista chinês expressando muito bem em português oferece a Popole desenhos de crianças do seu país que disseram ter-se inspirado na história de superação do judoca. Lá consegui tirar do congolês mais um sorrisão e um comentário: “estou muito feliz e no Japão também há muita gente que me segue”.
São 10 histórias de superação, de luta, de renascimento, mas representam 60 milhões de pessoas que apenas querem viver em paz e com o mínimode dignidade. Não querem mais nada do que serem seres humanos, reconhecidos e tratados como tais.
Por ver as suas caras, os seus sorrisos, as suas marcas, sentir o que sequer revelam, já valeu a pena estar aqui no Rio de Janeiro e partilhar minutos com a equipa olímpica dos refugiados.
Há vida para além do sofrimento.