Agricultores e especialistas guineenses defendem a transformação local da castanha de caju e não a exportação em bruto, uma forma de ganhar mais dinheiro e criar emprego.
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A Guiné-Bissau figura entre os dez maiores produtores da castanha de caju no mundo. O país exporta cerca de 200 mil toneladas por ano. É o maior produto estratégico para a economia do país, contribuindo expressivamente com cerca de 90% para o Orçamento-Geral do Estado.
Mas especialistas defendem que a Guiné-Bissau poderia ainda mais capitalizar a sua economia nacional com o sector de caju, isto é, se houvesse a transformação e valorização local da castanha, antes de ser exportada.
Veja Também Guiné-Bissau: Há sinais positivos na exportação de castanha de cajuOs agricultores, enquanto motor da dinâmica de produção da castanha de caju, figuram na cauda da cadeia de vantagens, isto comparativamente aos exportadores e o próprio Estado, dos quais há queixas de fazerem pouco em termos de investimento para o sector.
Jaime Bolges, presidente da Associação Nacional dos Agricultores da Guiné, entidade que representa os camponeses e produtores da castanha de caju, não tem dúvidas que a saída para a Guiné-Bissau, passa “necessariamente” pela industrialização do sector.
Valor acrescentado
Para ele, os agricultores “Jogam um papel muito importante no desenvolvimento da economia, principalmente da economia rural; isso significa que, no processo da transformação, temos algo vantajoso a ganhar que é o valor acrescentado”.
Quem já experimentou a transformação local e exportação dos produtos derivados de caju é o produtor e empresário de origem cabo-verdiana, António Silva Monteiro (Tutu Silva), que além de citar as vantagens económicas partilha a sua experiência na transformação da castanha de caju.
Veja Também Especialistas guineenses apontam caminhos para redução da dependência da ajuda estrangeira“Tudo começou com a visita de um grupo de empresários brasileiros, que acharam, na altura, que nós devíamos transformar a castanha. Então começamos a fazer uma parte da polpa em omeletes, bifes de caju e pastéis de caju. Depois começamos a engarrafar o vinho de caju para exportação”, recorda Monteiro.
Rendimento
Há dados que indicam que a castanha de caju rende ao Estado guineense cerca de 200 milhões de dólares por ano. Mas, há quem defenda que, com a castanha transformada, a Guiné-Bissau tende a ganhar mais.
“A primeira coisa que nós podemos considerar, como vantagem, é transferência do conhecimento. Ou seja, o país passará a beneficiar dessa tecnologia de transformação. Também há a componente de criação de postos de emprego, sem contar com o próprio valor acrescentado,” diz Midana Sambú, economista e antigo funcionário do Banco Mundial.
Sambú diz que segundo “estudos feitos pela Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento em 2008, acredita-se que quando a castanha de caju exportada for transformada na Ásia, é vendida três vezes mais para a União Europeia e outros países. E há também uma relação em como, quem processo ganha oito vezes mais do que quem produz”.
Investimento
A maioria de unidades de transformação de castanha de caju no país deixou de operar, devido aos custos de funcionamentos e face aos critérios internacionais de exportação e da concorrência no mercado externo.
Tutu Silva recorda, em relação a isso, que “a Guiné-Bissau tinha entre sete a oito unidades de transformação local de caju. Mas, as unidades acabaram por fechar, porque o Estado não dá apoio ao sector”.
Para mudar o cenário, Sambú diz que “o país deve inferir de forma profissional no sector de caju (…) porque comparativamente aos outros países, o que temos como produtividade, por metro quadrado, é muito abaixo dos países como a Nigéria”.
Por outro lado, sugere Sambú, o país deve “criar instituições de fomento que permitam que as taxas colectadas sejam investidas em unidade de transformação.”
Não materlizando essa visão, tal como diz diz Jaime Bolges, a Guiné-Bissau continuará a vender a castanha em bruto, o mesmo que “exportar mão de obra para outros países (…) porque a transformação local é uma contribuição visando dar acesso aos jovens ao mercado de trabalho.”