O Governo de Angola e o Presidente de Cabo Verde condenaram a tentativa falhada de golpe de Estado na Guiné-Bissau nesta terça-feira, 1, e pediram o respeito pela legalidade constitucional.
O Executivo de Portugal também juntou-se ao coro de países e entidades que condenaram a rebelião que por momentos manteve retidos no Palácio do Governo, em Bissau, o Presidente e o primeiro-ministro.
Veja Também Bazukas e metralhadoras usadas nos combates em frente ao Palácio do Governo em BissauNo final da manhã, militares que alegadamente tinham entrado à paisana no Palácio do Governo dispararam tiros durante durante a reunião do Conselho de Ministros, que estava a ser presidida pelo chefe de Estado e na qual estava também o primeiro-ministro Nuno Gomes Nabiam.
Umaro Sissoco Embaló e Nabiam terão sido colocados como reféns, enquanto os ministros foram libertados mais tarde.
As forças de defesa e segurança bloquearam os acessos ao Palácio.
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Enquanto a Rádio Bonbolom FM, com sede em Bissau, avançou que duas pessoas, pelo menos, terão sido mortas, outras fontes apontam para seis vítimas mortais.
Num curto comunicado divulgado depois do Presidente Umaro Sissoco Embaló ter falado à nação, *as 19 horas, o Ministério das Relações Exteriores de Angola, país que detém a presidência em exercício da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, saudou “a firme resposta das autoridades nacionais encabeçadas pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló que levou ao restabelecimento da ordem e apela a acalmia e tranquilidade”.
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Por seu lado, enquanto decorria a tentativa falhada de golpe de Estado, a Presidência de Cabo Verde informou que José Maria Neves estava a acompanhar “com grande preocupação os acontecimentos ocorridos nas últimas horas na Guiné Bissau e condena o recurso à força como forma de subverter a ordem e provocar alterações em relação ao poder vigente”.
Tal como os demais Chefes de Estados da CEDEAO, Neves fez “um veemente apelo no sentido do regresso à normalidade e ao respeito pela integridade física dos dirigentes do país e que se evite a perda de vidas humanas entre a população”.
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José Maria Neves informou ter falado depois ao telefone com o seu homólogo guineense e disse constatar que ele e os membros do Governo “estão livres de perigo e a situação já está a retornar à normalidade”.
Em Portugal, o ministro da Defesa Nacional condenou a tentativa de golpe de Estado e apelou ao fim do ataque.
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"Condenamos qualquer tentativa de golpe de Estado que possa haver, qualquer tentativa de utilização da força militar contra o poder político legítimo -- condenamos, sem qualquer reserva", afirmou João Gomes Cravinho aos jornalistas depois de ter participado num ciclo de debates na Universidade Lusófona do Porto.
O chefe da diplomacia portuguesa acrescentou que o seu Governo estava atento “aos desenvolvimentos nas últimas horas".
Durante o dia, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu "o fim imediato dos combates e o pleno respeito pelas instituições democrática" na Guiné-Bissau.
Na nota divulgada pelo seu porta-voz, António Guterres afirmou estar “profundamente preocupado com a notícia de combates violentos em Bissau".
Também a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) disse estar a acompanhar "com grande preocupação a evolução da situação na Guiné-Bissau, caracterizada por tiros de militares junto ao Palácio do Governo".
"A CEDEAO condena esta tentativa de golpe de Estado e responsabiliza os militares pela integridade física do Presidente Umaro Sissoco Embaló e dos membros do seu Governo. A CEDEAO apela aos militares que regressem aos seus quartéis e mantenham uma postura republicana”, pediu a organização sub-regional em comunicado.
A União Africana (UA) também manifestou a sua "viva preocupação" pela situação em Bissau.
Em comunicado, o presidente da comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, apelou ainda aos militares para que "assegurem a integridade física do Presidente Umaro Sissoco Embaló e dos membros do seu Governo" e a libertarem os membros do Executivo detidos.
Tudo sob controlo
No início da noite, o Presidente Umaro Sissoco Embalo, acompanhado do primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam, do vice-primeiro-ministro, Soares Sambú, do ministro do Interior, Botché Candé, e do ministro da Defesa, Sandji Fati, o Chefe de Estado guineense relatou ter estado debaixo de intensos tiroteios, mas que "tudo está sob controlo".
“Foram precisas cinco horas de tempo para que as Forças Armadas pudessem resgatar o seu Comandante Supremo”, afirmou Embaló, quem felicitou as forças de defesa e segurança que "conseguiram impedir este atentado à democracia".
“A Guiné-Bissau está de luto, pois valentes filhos foram mortos hoje por ambição de duas ou três pessoas que acham que este país não tem direito de viver em paz”, afirmou, sem no entanto avançar detalhes sobre o número de mortos e de golpistas envolvidos no acto.
Quanto a causas, Umaro Sissoco Embaló foi peremptório ao dizer que a “tentativa de golpe de Estado” tem a ver com a sua luta contra o tráfico de droga.