O primeiro-ministro demitido pelo autoproclamado Presidente da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, denunciou no início da noite desta terça-feira, 10, um cerco à sua residência na capital do país.
“Neste preciso momento, a minha residência privada está cercada de militares fortemente armados sem que eu tenha sido avisado de qualquer operação. O plano de me silenciar que tenho denunciado nos últimos dias está em execução?”, escreveu em jeito de pergunta na sua página no Facebook, acrescentando que “a democracia e o Estado de direito democrático prevalecerão”.
Também na mesma rede social, Aristides Gomes divulgou uma carta enviada na segunda-feira, 9, ao secretário-geral das Nações Unidas, na qual denuncia o aumento de tráfico de drogas no país e pede ao Conselho de Segurança para enviar, com caráter de urgência, uma missão de avaliação da situação na Guiné-Bissau.
Na nota de quatro páginas enviada a António Guterres, Gomes descreve o que, segundo ele, foi “a tomada do poder pela força perpetrada no dia 27 de Fevereiro” que instalou o “caos vivido atualmente no país”.
Aumento de tráfico de droga
Frente a essa situação, o primeiro-ministro demitido insta o Conselho de Segurança a tomar medidas, em especial a “adoção e reajuste de sanções através de medidas mais restritivas e alargadas que inclúam os atores politicos autoproclamados pelo crime de usurpação de funções".
Veja Também Nuno Gomes Nabian diz estar comprometido com o combate à corrupção na Guiné-BissauEntretanto, a denúncia mais forte aponta para "a retoma de descarga de grande quantidade de droga no sul do país".
“Indivíduos de várias nacionalidades, todos ligados ao narcotráfico e terrorismo, alguns com mandados de captura internacional" encontram-se na Guiné-Bissau, segundo Aristides Gomes que recomenda à comunidade internacional que faça "uma abordagem mais profunda ao fenómeno criminal de tráfico de droga, branqueamento de capitais e corrupção".
O chefe do Governo do PAIGC demitido exorta também a CEDEAO e a União Europeia a avaliarem o "gritante incumprimento pela Ecomib do mandato que lhe foi confiado".
Gomes pede ainda um posicionamento da CEDEAO, União Africana, União Europeia, Nações Unidas e demais parceiros do país, “no sentido de se saber se o seu Governo é o legitimo e único que reconhecem na Guiné-Bissau”.
Recorde-se que desde a posse de Úmaro Sissoco Embaló, no dia 27 de Fevereiro, numa sessão que ele classificou de simbólica, convocada pelo então primeiro vice-presidente do Parlamento, Nuno Gomes Nabian, que depois veio a ser nomeado primeiro-ministro, a CEDEAO e a CPLP pediram diálogo e contenção às partes.
Num comunicado divulgado no dia 5 o Conselho de Segurança das Nações Unidas lembrou que pode “tomar medidas apropriadas contra todos aqueles que comprometem a estabilidade e a ordem constitucional no país”.
Até agora, nenhuma organização internacional reconheceu o Governo e apenas o Senegal e a Gâmbia estiveram representados na cerimónia de posse de Úmaro Sissoco Embaló.