Os reflexos da greve de camionistas no Brasil, que chegaram à população com a falta de combustíveis, alimentos e medicamentos, atingem também o governo federal.
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Para o Cientista Político Osvaldo Deon o movimento escancara a fragilidade da presidência e complica ainda mais as pretensões políticas do Palácio do Planalto nas eleições em Outubro.
“O presidente Michel Temer perdeu muito apoio político neste momento e veja que não é o apoio da população brasileira, pois ele já tinha perdido esse há bastante tempo. Desta vez ele perde também o apoio dos atores económicos de parte das elites econômicas brasileiras que tendo em vista a agenda implementada depois de 2016 dava algum tipo de estímulo para a continuidade inclusive fazendo com que o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles pudesse ser agora içado a candidato ou pré-candidato do MDB à presidência da república. Imagino que a base política actual (MDB e PSDB) esteja numa situação dramática vendo candidaturas crescendo fora desse tipo de eixo, como as candidaturas de esquerda e de direita”, diz.
Os reflexos na economia não são menores. As propostas feitas pelo governo para os camionistas colocarem fim a greve pode custar muito caro. O economista Paulo César Feitosa teme o aumento de alíquotas e diz que o preço será retirado do bolso da população.
“Sempre sobra para o povo. Nós todos acabaremos pagando a conta. É importante analisarmos qual é o valor dessa conta neste momento porque a gente percebe inclusive do ponto de vista econômico que o governo e a sua equipe está batendo cabeça. No caso, o governo terá que lançar mão de outros impostos fáceis de ser recolhidos que não mais dos combustíveis. Ele terá que mexer nas alíquotas e as mais fáceis de serem alteradas agora são aquelas de operações financeiras, como o crédito. E encarecê-lo é mais um fator negativo para quem acreditava que a economia iria crescer mais de dois por cento este ano”, ressalta.
A greve dos camionistas é um facto que têm implicações, que não se limitam à política e à economia. Todo o país sente um movimento que é despeito de sua legitimidade, que adquiriu um carácter de verdadeiro protesto social muito mais amplo, defende o especialista em segurança pública Luis Flávio Sapori.
“É esse aspecto que mais me chama a atenção. Parte expressiva da população brasileira que apoia o movimento dos caminhoneiros o faz não apenas para apoiar as suas reivindicações, mas também e principalmente como forma de protesto contra a realidade nacional. A crise que se instalou é vista para muitos como algo que devemos experimentar para expressar uma indignação nacional com tudo que está aí. Mas é ingênuo e equivocado acreditar que essa crise vai nos purificar. É como se o Brasil tivesse que passar por mais essa provação para pagar seus pecados históricos, por todos seus erros, pela corrupção, pela violência, pela baixa qualidade dos serviços públicos”, afirma.
Ele ainda completa.
“Nesse sentido, apostar na radicalização da greve dos caminhoneiros é acreditar que das cinzas renascemos renovados e purificados. Mas essa ideia é absurda, perigosa e ingênua. Apostar no acirramento da crise é apostar em governos autoritários, em supostos líderes messiânicos que vão resolver todos os nossos problemas. Se há uma saída para o Brasil é o aperfeiçoamento da democracia. Somente pela democracia é que poderemos resolver os nossos problemas e tornar nossa sociedade menos corrupta e menos violenta”,