Um braço-de-ferro pode ter-se instalado entre a Renamo e o Governo de Moçambique por causa do tema das pensões para os guerrilheiros daquele partido da oposição, que Ossufo Momade exige que sejam pagas incondicionalmente, enquanto o Executivo defende que o pagamento deve começar após o encerramento da última base da guerrilha, em Gorongosa, centro do país.
A Renamo recusa-se a encerrar a base da Gorongosa, o seu quartel general durante a guerra civil, até que as pensões dos seus homens armados sejam pagas e fontes partidárias asseveram que aquela formação política pretende manter esta exigência até às últimas consequências.
O encerramento da base, inicialmente previsto para finais do ano passado, foi adiado sine die e não houve qualquer informação tanto do Governo quanto da Renamo sobre o adiamento.
Veja Também Integração dos antigos guerrilheiros da Renamo "trava" em verbas que enviado do secretário-geral da ONU diz existiremO Executivo diz que as pensões só vão ser pagas quando a última base estiver encerrada, sublinhando que a verba para tal foi incorporada no Orçamento de Estado para 2023 e que já foi aprovado um decreto para o pagamento das pensões.
A Renamo, na voz do seu porta-voz, José Manteigas, afirma que o partido tem conhecimento desse decreto, mas ainda não foi formalmente informado sobre tal, “e nós questionamos porque é que as pensões não estão a ser pagas”.
Para o analista político Fernando Mbanze este é um discurso politicamente correcto de José Manteigas porque, na verdade, a Renamo vai pretender manter a sua base da Gorongosa como forma de pressão sobre o Governo, para fechar o dossier das pensões antes do inicio do próximo ciclo eleitoral.
Veja Também Falta de fundos põe em causa as garantias da desmilitarizaçao, diz chefe da RenamoO Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, sem se referir a pré-condições, garantiu terem sido encontradas formas de se pagarem as pensões e que isso iria ocorrer em breve, “apesar de os beneficiários não terem descontado para isso, e este é o custo da paz e da democracia”.
O analista político Lucas Ubisse acredita que seja o Governo a dar o braço a torcer, como forma de convencer a Renamo a apoiar a posição da Frelimo relativamente à questão das eleições distritais, já que, aparentemente, não tem como travar o projecto unilateral do partido no poder sobre este assunto.
“Eu acredito que o Governo vai fazer uma concessão para a Renamo, iniciando o pagamento das pensões dos guerrilheiros desmobilizados e que se encontram numa situação de pobreza”, sublinha Lucas Ubisse.
O representante do Secretário-Geral das Nações Unidas em Moçambique, Mirko Manzoni, prometeu “trabalhar com as partes (Governo e Renamo), para que a base da Gorongosa seja encerrada nos próximos dias”.