O antigo Presidente do Gabão, Ali Bongo, deposto em agosto por uma junta militar, anunciou a sua “renúncia definitiva” à política e, num apelo enviado à imprensa, pediu clemência para a sua família, que diz ter sido vítima de “violência” e “tortura”.
“Quero reafirmar a minha retirada da vida política e a renúncia definitiva a qualquer ambição nacional (....). Jamais desejaria constituir, para o Gabão, um risco de ameaça, de desordem e de desestabilização”, declarou num texto enviado na noite de quarta para quinta-feira pela sua advogada gabonesa Gisèle Eyue Bekale aos meios de comunicação social, incluindo a AFP.
“Apelo ao apaziguamento, ao fim das violências e das torturas infligidas à minha família, em particular à minha mulher Sylvia e ao meu filho Noureddin, e à sua libertação, pois já estão presos há demasiado tempo por factos de que não foram considerados culpados”, acrescentou.
Após meses de silêncio, o antigo chefe de Estado, de 65 anos, reconheceu as “insuficiências” da sua gestão política, “assumindo a responsabilidade exclusiva, tanto a nível social como do funcionamento das nossas instituições”, e apelou ao seu país para que “renuncie à vingança”.
“Eu próprio não tenho liberdade de movimentos e estou sujeito a uma vigilância diária. As minhas visitas dependem da autorização dos militares. Isolado do mundo exterior, sem comunicações e sem notícias da minha família”, afirma o texto, escrito em francês.
Desde o golpe de Estado de 30 de agosto de 2023, que pôs fim a 55 anos de dinastia familiar, o antigo Presidente vive na sua residência privada em Libreville, “livre de abandonar o país”, segundo o Governo.
A antiga primeira-dama, de 61 anos, e o seu filho de 32 anos estão detidos na prisão central de Libreville. Noureddin Bongo, em particular, por “corrupção” e “desvio de fundos públicos”, e Sylvia Bongo por “branqueamento de capitais, manipulação de bens roubados, falsificação e utilização de falsificações”.
O novo governo, liderado pelo general Brice Oligui Nguema, acusa-os de terem tomado o poder e desviado maciçamente fundos públicos, manipulando o chefe de Estado, enfraquecido desde 2018 por um grave acidente vascular cerebral. Desde a sua detenção, o governo de transição do general Oligui tem partilhado poucas informações sobre o seu estado ou sobre o progresso da investigação.
Em maio, os advogados franceses dos Bongos apresentaram uma ação civil em Paris por “detenção ilegal” e “sequestro agravado por actos de tortura e barbárie”. Uma primeira queixa apresentada em França foi arquivada em outubro de 2023. Segundo o Governo, trata-se de “acusações caluniosas e falsas”.