Forças Armadas Moçambicanas carecem de capacidade para enfrentar terroristas

Filipe Nyusi visita tropas em Cabo Delgado

Analistas dizem que é preciso investir na profissionalização

Analistas políticos defendem que é necessário capacitar as forças de defesa e segurança moçambicanas para conseguirem a manutenção e consolidação das posições que estão a ser recuperadas em Cabo Delgado, após a cessação do apoio internacional na luta contra o terrorismo.

O jurista e comunicador Tomás Vieira Mário afirma que não restam dúvidas que manter e consolidar não só Mocímboa da Praia, mas todas as outras áreas de onde serão expulsos os terroristas, é um grande desafio para o exército moçambicano.

Moisés Mabunda, sociólogo, diz serem vários os exemplos de situações em que após a retirada das forças externas, os grupos inimigos do Estado voltaram a ocupar posições muito importantes

Profissionalização

O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, considerou um desafio complexo manter e consolidar a retaguarda, e alguns analistas defendem que tem de haver uma nova visão e um maior investimento para as Forças Armadas de Moçambique para que sejam profissionais e capazes de responder ao desafio.

O facto de a força ruandesa ter escorraçado em pouco tempo os insurgentes de Mocímboa da Praia, suscitou acesos debates, com alguns analistas a afirmarem que as Forças Armadas de Moçambique, tal como o Governo moçambicano, têm que se confrontar com as suas próprias limitações.

Outros consideram que a razão pela qual Maputo foi forçado a aceitar a participação internacional no esforço de guerra em Cabo Delgado, é por ter chegado à conclusão de que o exército moçambicano não estava em condições de enfrentar o jihadismo.

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Investimento

E Calton Cadeado, docente de relações internacionais, é da opinião de que isso resulta sobretudo, do facto de que não tem havido um investimento significativo nas forças armadas moçambicanas.

Contudo, o jornalista Fernando Lima diz que o problema é mais profundo que investimento, sublinhando que tem de haver uma nova visão.

Na opinião de Fernando Lima, desde a independência de Moçambique, em 1975, nunca houve a coragem de se fazer um debate sério e frontal sobre que forças armadas se pretendem para o país. "Para mim, o investimento é uma questão menor", realçou aquele analista.

E há quem entenda que a recuperação de Mocímboa da Praia abre caminho para que a Total relance o seu projecto de gás natural liquefeito em Cabo Delgado.

Mas, para Tomás Vieira Mário, ainda é cedo pensar nessa possibilidade.

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Entretanto, o investigador Borges Nhamirre critica o facto de as pessoas estarem a perder tempo a pensar no gás da petrolífera Total, porque, no seu entender, o gás está em Afungi e não vai sair de lá. Há pessoas que estão obcecadas com isso", lamenta.

O director do Centro para a democracia e Desenvolvimento, Adriano Nuvunga, entende também que o que deve preocupar mais as pessoas neste momento, é a questão da assistência humanitária.

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