Filipe Nyusi critica "indefinição" da ajuda internacional ao combate a insurgentes

Filipe Nyusi quer que os países definam sua ajuda

O Presidente moçambicano, Filipe Nusi, criticou o que considera falta de informação clara sobre as modalidades de apoio de alguns países à luta contra a insurgência armada na província de Cabo Delgado.

Analistas consideram, entretanto, que a comunidade internacional pode ser bastante útil na identificação dos insurgentes, que ainda não têm rosto.

Depois de o adido militar americano em Moçambique, Fergal James, ter afirmado que o Governo dos Estados Unidos "está mais do que aberto a cooperar com Moçambique no combate aos ataques armados em Cabo Delgado", surge agora o embaixador russo a manifestar também o apoio do seu país a esse combate.

Alexander Surikov lamentou o fato de se permitir que a insurgência armada cresça no norte de Moçambique, considerando que é como o cancro que "quando não se combate no início, torna-se muito mais perigoso para a saúde".

Tal como havia realçado o adido militar americano na cerimónia protocolar da sua apresentação, o diplomata russo disse também que cabe às autoridades moçambicanas decidirem em que deve consistir o apoio à luta contra os insurgentes, porque "este é um assunto interno de Moçambique".

"Cabe ao Governo, ao Ministério da Defesa Nacional e à Polícia determinar as formas de cooperação nesta matéria de luta contra o terrorismo", realçou o embaixador russo em Maputo.

Entretanto, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, diz ter conhecimento de que a comunidade internacional quer ajudar Moçambique a combater os atacantes em Cabo Delgado, mas lamenta a falta de informação sobre as modalidades desse apoio.

"Eu gostaria de apelar a todos os nossos amigos, que os apoios que tanto proclamamos sejam objectivos e concretos. Toda a gente diz que queremos apoiar, mas quando perguntamos como é que querem apoiar, não dizem nada, não há coisas concretas", afirmou Nyusi.

Entretanto, o professor Armindo de Sousa considera fundamental que as autoridades moçambicanas clarifiquem a sua posição sobre o envolvimento da comunidade internacional na luta contra os insurgentes, "porque me parece que as autoridades não têm sido suficientemente abertas nesta matéria".

"É preciso partilhar a informação", defendeu o académico.

Por seu turno, o analista Manuel Alves afirma que a comunidade internacional pode jogar um papel importante na identificação dos insurgentes.

Alves destacou que pelo interesse que existe em resolver a situação em Cabo Delgado, "o apoio que Moçambique devia solicitar aos seus parceiros seria na área militar propriamente dita, mas também na identificação dos insurgentes, cujos dirigentes ainda não têm rosto".

Os ataques armados em alguns distritos do norte de Cabo Delgado eclodiram em 2017 e terão resultado na morte de mais de 300 pessoas, segundo as autoridades.