Os avanços, recuos, desafios e expectativas do cinema estiveram em análise durante uma semana em Luanda no Festival Internacional de Curta-Metragem da Kianda que decorreu de 20 a 27 de Janeiro de 2023, no Instituto Guimarães Rosa, antigo Centro Cultural Brasil-Angola.
Para além de reunir a classe artística, estudantes, escritores e apreciadores da sétima arte, a IV edição do FESC-KIANDA foi realizada em alusão ao 447º da Cidade de Luanda.
O evento homenageou cineastas, exibiu e premiou as melhores produções cinematográficas da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Para os participantes foi uma oportunidade para avaliar o estado da arte em Angola e valorizar aqueles que se propuseram a desafiar os obstáculos e, em meio as inúmeras dificuldades, decidiram aplicar todoo seu saber para levar aos ecrãs com rigor e técnicas necessárias a realidade ficcionada do quotidiano angolano.
O FESC-KIANDA fez distinções e certificados de participação ao elhor filme, melhor realizador, melhor actor, melhor actriz, figurino e fotografia, de modos a incentivar a produção cinematográfica nacional, a distribuição e a difusão das de cinema e audiovisual, para além de atrair os patrocínios, apoios, e financiamentos da produção de obras nacionais.
Melhores e mais produções
Vânio Almeida, director artístico do FESC –KIANDA, fala de melhorias do festival em relação as edições anteriores no que concerne à participação do público, dos artistas, dos amantes da arte, assim como dos aspectos técnicos de produção cinematográfica nacional.
Questionado sobre a qualidade da produção nacional, o produtor e realizador afirmou que ainda não é o que se deseja, mas passos largos têm sido marcados rumo a uma melhor qualidade dos trabalhos.
"Faço um balanço positivo em relação à qualidade dos filmes exibidos e dos cineastas que participaram. Os cineastas agora estão mais preocupados com a qualidade dos seus trabalhos, isto faz com que o festival tenha esta preocupação no seu trabalho", afirmou Almeida.
A produção de filmes em Angola evoluiu consideravelmente nos últimos tempos. Espaços como FESC-KIANDA funcionam como uma oportunidade não apenas de debate e de reencontro da classe, como também para avaliar a qualidade do se faz no país.
Para o realizador e presidente do Movimento de Cineastas de Angola, Samaritano Bondoso, o quadro cinematográfico nacional tem estado a inverter-se do ponto de vista da produção apesar da fraca regularidade devido a falta de apoios.
"As dificuldades continuam as mesmas, os cineastas são resilientes e adoptaram novos métodos que os leva a produzir, mas a nossa grande dificuldade em termos de cinema em Angola são mesmo os apoios, os incentivos", explicou o artista para quem "a produção requer muitos recursos sejam técnicos e financeiros, o cinema requer a participação de muita gente incluindo os profissionais que devem ser remunerados".
Mais apoios
"As dificuldades continuam, nós é que estamos anos adaptar, o que estamos a fazer é ´se arrastar´, porque mesmo sem recursos nós estamos a produzir,» frisou o cineasta.
Por falta de apoios, a produção de cinema em Angola não tem dado os seus melhores passos.
Faltam mais iniciativas e mais apoios, seja do Estado como de entidades privadas, apesar das produções actualmente terem custos mais baixos devido aos diversos recursos técnicos e tecnológicos disponíveis para realização de filmes.
Ery Claver fala em avanços do cinema nacional do ponto de vista da criatividade e da liberdade da abordagem de temas desafiantes.
Aquele cineasta, que a se assume como reacionário do cinema, refere que o país está na melhor fase de produção de filmes com mais liberdade e mais democracia, apesar de alguns temas ainda serem muito precários e que requererem mais ousadia.
"Estamos na melhor fase do cinema angolano nesta geração do pós-independência, é o melhor momento. É o momento que mais se produz, o cinema está muito mais democrático. Anteriormente, a ideia de fazer filmes era muito mais cara, não se imaginava fazer filmes com menos de um milhão de dólares. Mesmo em termos de produção também, por exemplo o ano passado eu vi mais de 5º filmes angolanos, seja de curta e longa metragem", disse Claver.
Homenageados e premiados
A IV edição do FESC-KIANDA homenageou Asdrúbal Rebelo, cineasta, produtor, realizador, guionista e documentarista desde 1975.
Aquele profissional, que já produziu dezenas de obras, difundidas em diversos países da CPLP, referiu-se sobre a necessidade de mais e melhor apoio ao cinema nacional para que este sector possa dar um contributo à sociedade angolana inclusivamente para garantia de emprego aos fazedores da 7ª arte.
Asdrúbal apontou alguns recuos do cinema angolano a nível do apoio à produção.
"Na minha geração nós fomos apoiados pelo Estado. Nós tínhamos o Instituto Angolano de Cinema, tínhamos a televisão, tínhamos dois laboratórios de cinema e hoje não vemos isto. É importante que se volte para isto, porque o cinema cria emprego. Seja na música, na escrita, no operador de camara tudo isto a juventude que muitas vezes está sem orientação pode encontrar entrar no cinema o motivo da sua existência», afirmou o realizador.
Com quatro indicações de prémio no Festival Internacional de Curta Metragem edição 2023, o filme “O Herói esquecido”, do realizador e produtor Francisco Kakulo, foi vencedor na categoria de melhor produção, num festival em que o grande vencedor foi o filme “Moça”, do cineasta Denis Miala.
Francisco Kakulo afirmou que o cinema angolano ainda é muito pobre devido à escassez de recursos técnicos, apesar dos recursos humanos estarem à altura dos desafios actuais.
"Ainda estamos muito pobres. É verdade que já temos no mercado muitas camaras desafiadoras e modernas e actualizadas, mas ainda estão muito caras e não estão ao alcance de todos", lamentou Kabulo.
Os mais de 20 filmes exibidos no evento serão exibidos no Cine Geração, fruto de uma parceria entre a instituição organizadora do Festival de Cinema de Curta Metragem e a produtora geração 80.