Dezenas de famílias angolanas desenterram arroz com o prazo de validade vencido na lixeira situada no bairro Atira, arredores da cidade de Benguela, numa correria associada à situação de fome e miséria no país.
Indiferentes a problemas de saúde, como aventa o Instituto de Defesa do Consumidor (INADEC), homens, mulheres e crianças deslocam-se à chamada lixeira controlada, há já uma semana, ao encontro de sacos de arroz descartados por uma empresa do ramo alimentar.
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Para contornar a ação policial, houve quem tivesse pernoitado no bairro Atira para conseguir o arroz, o produto mais referenciado por angolanos que expressam desagrado face à alta dos alimentos.
Carlos Manuel, testemunha, conta que a correria começou pouco depois da saída do camião que deixou o produto.
“As máquinas fizeram o buraco, depois chegou o camião com os sacos de arroz, daqueles grandes. Quarenta minutos depois, a população começou a cavar, foi interrompida pela Polícia, mas voltaram quando os agentes saíram, muitos passaram aqui a noite”, conta Manuel.
Haverá ainda gente à procura, mas há já muito arroz consumido
"O arroz está bom, até esse saco aí … todo o arroz é limpo, é para consumir, já provámos, é bom. O Estado deveria antes disso chamar as pessoas e entregar, mas ninguém vai ficar doente”, diz a cidadã Madalena Naterça, enquanto Joana lembra que “o quilo de arroz está mil kwanzas (quase um dólar), a população está a sofrer”.
“Somos muitos a cavar, as mães, os filhos e os pais. Olhando para o céu, estamos a pedir a Deus para nada acontecer com a nossa saúde”, refere Paulo.
O diretor do Instituto de Defesa do Consumidor em Benguela, Manuel Furtado, temendo que o mercado informal absorva este arroz, realça que a queima era o ideal, mas assume que a empresa não pode pagar pela falta de um aterro sanitário na província
“É lastimável ver esta população a desenterrar o arroz que já foi para o descarte, é impróprio para o consumo humano, poderá chegar às nossas mesas através do mercado informal. É um problema que deve ser resolvido nos próximos dias, imediatamente, podemos ter casos em matéria de saúde pública”, avisa aquele gestor.
Ele acrescenta que “estas lixeiras controladas, infelizmente, estão ao alcance dos habitantes, nós, enquanto Estado, é que temos de criar condições para estes produtos impróprios.
Há 15 anos que o Governo Provincial de Benguela, que teve quatro governadores neste período, vem falando em aterros sanitários para os municípios do litoral, mas alegadas limitações financeiras travam a iniciativa.
Refira-se que o Orçamento Geral do Estado prevê a construção de lixeiras controladas.