A literatura moçambicana continua a revelar vozes marcantes, e Lavimó da Verónica é uma delas. Autor do livro de poemas "Sedento de Amar", Lavimó prepara-se agora para lançar o seu primeiro romance, “As Origens”. Nascido a 24 de Julho de 1997, na cidade da Beira, Lavimó viveu uma infância dividida entre a tranquilidade do campo, em Goonda, e a agitação da cidade. Essa dualidade, talvez, tenha moldado o olhar sensível que agora transborda na sua escrita.
Lavimó mudou-se para Maputo aos 16 anos para estudar Engenharia Civil na Universidade Eduardo Mondlane, mas a sua paixão pela literatura nunca foi ofuscada pela escolha académica. Em 2021, durante um período de exílio em Quelimane, escreveu “As Origens”, uma obra que promete causar impacto na cena literária africana.
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A busca pelas “Origens”
O romance narra a jornada de um homem negro, brasileiro, que viaja ao Zimbabué em busca das suas raízes. Ao longo do caminho, ele descobre um sistema de escrita ancestral que, segundo o autor, “muda praticamente a história universal, sobretudo a história da África”.
Lavimó explica que a escolha de um protagonista brasileiro foi estratégica para a trama. “Para que a história soasse verosímil, eu precisava de uma personagem que estivesse um pouco distante da África. Sabemos que o Brasil recebeu muitos africanos durante o período de colonização, então faz sentido essa conexão com ancestralidade e racismo”, detalha.
Ao ser questionado sobre a inspiração para o romance, Lavimó partilha que a ideia surgiu há anos, enquanto crescia a ouvir histórias sobre a África. No entanto, foi ao descobrir escritores africanos, como Chimamanda Ngozi Adichie, entre outros, que encontrou o estímulo para escrever. “Eu queria retratar uma outra história sobre a África, tanto para os africanos quanto para a diáspora. Algo que ainda não foi contado”, comenta.
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Temas que ressoam
Além do racismo e da ancestralidade, “As Origens” aborda questões de identidade e aculturação, levando o leitor a reflexões profundas sobre a história e os desafios da contemporaneidade. Para Lavimó, ambientar a trama na África foi fundamental para a autenticidade da narrativa. “A África é o berço da humanidade, da civilização, da escrita. Juntando isso ao título do livro, “As Origens”, fazia todo o sentido que a história começasse aqui.”
O lançamento e o significado da escrita
O tão aguardado lançamento de “As Origens” será em Maputo, capital de Moçambique. Embora os detalhes sobre a data e o local ainda não tenham sido divulgados, a expectativa é alta e, na segunda-feira, já começa a pré-venda do livro.
Para Lavimó, a escrita vai além de um passatempo ou profissão. “A literatura é a minha vida. Eu não consigo viver sem escrever. Todos os dias tenho algo a dizer, algo a criar.”
Com “As Origens”, Lavimó da Verónica dá um passo importante na sua trajectória literária, consolidando-se não apenas como poeta, mas também como romancista. Juntando-se ao coro de autores africanos que usam a escrita para explorar e celebrar a identidade do continente, Lavimó desafia narrativas históricas e culturais. “As Origens” promete ser mais do que um romance – é um convite à reflexão e à redescoberta das raízes que nos conectam.