Em Abril deste ano, Eufrance Hadassa, de 16 anos, publicou o seu primeiro livro físico intitulado "A dor que ninguém vê," uma obra de ficção que conta a história da Ana, de 17 anos, que sofre de vitiligo desde os seis.
“A Ana sofre, mas não mostra as pessoas que está sofrendo. Ela passa necessidades, dificuldades, e fica triste quando recebe comentários maldosos. Ela é autodestrutiva,” explicou a autora.
Apaixonada por leitura, Eufrance começou a escrever aos 10 anos e pensou: “se leio os livros dos outros, ou seja, a imaginação dos outros, os outros também podem ler os meus livros, ou as minhas imaginações”.
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O vitiligo, que em Angola é vulgarmente conhecido como “ngonga,” é uma doença de pele que se caracteriza pela perda de pigmentação. Michael Jackson, Luiza Brunet, Miguel Hurst, Thomas Lennon, Steve Martin, Jon Hamm e Winnie Harlow são alguns dos famosos portadores da doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que 1% da população mundial tenha vitiligo, ou seja em torno de 150 milhões de pessoas.
Durante a entrevista ao Fala África, Eufrance leu um trecho do livro. “Quem não tem acha sempre lindo. Quem não é preconceituoso acha perfeição em tudo. Eu parei e fiquei me perguntando se ela era maluca ou coisa assim. Mas eu teria orgulho de uma doença por quê? Foram tantas coisas que me aconteceram. Mexeu na minha aparência. Mexeu no meu estado emocional. Baixou a minha autoestima”.
A autora disse que tem recebido muitos elogios. Há pessoas que contaram a Eufrance que mudaram a maneira de pensar após lerem o livro. E há pessoas que também já pediram a segunda parte.
Eufrance não conhecia ninguém com vitiligo antes de escrever a obra. A inspiração veio de uma música que ela ouviu no rádio. A letra contava a história de um menino que sofria com a doença. Ela se comoveu e usou o seu talento para chamar atenção para a dor que essas pessoas enfrentam devido a falta de informação e preconceito.
A autora disse que algumas pessoas com vitiligo já leram o livro, o qual saiu primeiro em formato digital, e ficaram comovidas com a história. Eufrance contou que os leitores com vitiligo se identificaram com várias experiências que a personagem Ana passou no livro.
A jovem autora também recebeu algumas críticas, mas encarou a experiência com maturidade. “É sempre necessário e bom ouvir as críticas porque é com as críticas que vamos aprender e nos aperfeiçoar.”
Eufrance deixou uma mensagem para todos: “Precisamos pensar um bocadinho mais antes de falar. Sentir um bocadinho mais a dor do outro. Sei que é difícil. Sentimos pena, mas nunca a dor da outra pessoa. Mas temos que ter cuidado. São as nossas palavras que têm destruído mentes que poderiam ajudar a nós termos um mundo melhor. Ser sincero não é destruir. A maneira de algumas pessoas de ser sincera tem matado as pessoas, tem destruído a mente das pessoas. No livro e agora eu venho pedir mais empatia. Não só para as pessoas que têm vitiligo, depressão, baixa autoestima, ansiedade, entre outras coisas, mas é para todo mundo. Todos nós precisamos de apoio”.
Embora tenha vários livros escritos, "A dor que ninguém vê" foi a primeira obra publicada de Eufrance Hadassa.
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