Em entrevista ao Fala África VOA, o escritor angolano Paulo Paca falou sobre o livro, "Para onde vai a África?”, uma radiografia dos países que formam o continente após a independência das ex-colónias europeias.
“A África é um continente, até chamado de continente berço. Tem de tudo, mas não tem pão para dar aos seus filhos. Eu, por exemplo, sou filho de camponês, e quando estamos a falar de pessoas que colhem lixo nas ruas de Luanda, ou nas ruas de outras capitais africanas, eu faço parte dessas pessoas”, disse Paulo que viveu momentos difíceis durante a sua infância e como muitos angolanos, é um sobrevivente da guerra civil no país.
Para ele é essencial nos perguntarmos, “como podemos sair da crise em que estamos mergulhados?”
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Paulo chamou a atenção para o facto de que a maioria dos líderes africanos está apenas interessada em permanecer no poder.
Não está interessada em resolver o problema do povo com relação à fome, à miséria, à falta de hospitais, à falta de escolas.
“Entra um Governo, começa a trabalhar e no fim do seu mandato esses problemas nunca são resolvidos!”, acrescenta.
O autor gostaria de saber se quem está no poder tem uma visão de África daqui a 50 anos ou está apenas interessado no enriquecimento próprio.
Ele observou que as pessoas que assumem o poder tornam-se donas de tudo e nada muda. “Quem está a ver o bem são aquelas pessoas próximas ao poder, ou estão a trabalhar com o poder. Todo o resto continua a ver como se fosse uma miragem no deserto”, disse.
Para Paulo, se a situação continuar assim não vai haver avanço.
“Vamos ter sempre esta África de mendigos. Não uma África de prosperidade", argumentou.
Paulo Paca é natural do Uíge e conseguiu fugir com a família para a Holanda durante a guerra civil de Angola.
A vida nova na Europa não começou imediatamente e as oportunidades também demoraram a chegar.
Paulo e a família tiveram de esperar 10 anos para obter os documentos necessários para trabalhar e estudar.
Não foi fácil, no entanto, Paulo lembra que a pessoa que ama aprender não pode ser parada porque o conhecimento pode ser adquirido gratuitamente em bibliotecas.
E foi isso que Paulo fez até chegar a hora de se tornar um homem livre.
Ele é um autodidata apaixonado por conhecimento, leitura e história, e actualmente trabalha como operador de sistemas no DHL, no aeroporto de Bruxelas, Bélgica.