Ex-guerrilheiros da Renamo reiniciam a vida em aldeias onde falta de tudo

Estrada na província de Manica (Moçambique)

União Europeia e o Governo dizem ter começado a implementar várias iniciativas nas aldeias de origem dos ex-guerrilheiros.

Dezenas de ex-guerrilheiros da Renamo, desmobilizados em Junho no encerramento da última base da antiga guerrila na Gorongosa, foram reintegrados recentemente em aldeias de origem no distrito de Tambara, na província moçambicana de Manica, onde dizem faltar as mais básicas condições para a sua reinserção social.

Parceiros internacionais e parceiros dizem estar a criar condições nas aldeias para que os desmobilizados retomam a sua vida na comunidade.

Your browser doesn’t support HTML5

Ex-guerrilheiros da Renamo reiniciam a vida em aldeias com falta de tudo


Zacarias Gasolina, viveu os últimos 11 anos em duas bases da Renamo na Gorongosa, após aceitar o convite de se reagrupar em 2012 para “lutar por uma democracia em risco” e regressou à aldeia em Muira (Tambara), onde partilha com gado a água de poços tradicionais abertos no seco leito rio sazonal que dá nome à aldeia.

“Partilhamos a mesma água com bois e cabritos no leito do rio. Entendemos que estamos a consumir água imprópria”, afirmou Gasolina, que regressou com a sua mulher e seis filhos à aldeia.

Veja Também SG da ONU congratula-se com encerramento da última base da Renamo

Outra dificuldade encontrada pelos ex-guerrilheiros no regresso a vida civil é a falta de terrenos para construção das suas habitações e campos agrícolas para a agricultura de subsistência.

João Lourenço, que foi recrutado para a guerrilha aos 17 anos, em 1981 durante a guerra civil dos 16 anos, foi desmobilizado pela primeira vez em 1994, pela Onumoz, a missão de paz das Nações Unidas em Moçambique, mas regressou as matas em 2012 ate ser novamente desmobilizado em Junho na Gorongosa.

Veja Também Representante do SG da ONU diz não haver recursos para pagar pensões aos guerrilheiros da Renamo

“Precisamos de terrenos para as casas e recomeçar as nossas vidas, mas também estamos esperançosos que possamos ter as pensões o mais breve para nos reintegramos economicamente”, afirmou João Lourenço.

Projetos em curso

Entretanto, Paolo Sertoli, director da Agencia Italiana de Cooperação e Desenvolvimento (AIC) em Moçambique, assegurou que a União Europeia e o Governo moçambicano começaram a implementar várias iniciativas nas aldeias de origem dos ex-guerrilheiros para lhes oferecer condições de reinserção social.

Veja Também Renamo: O desafio de ser um partido agora sem um braço armado

Através do programa de Desenvolvimento Local para a Consolidação da Paz em Moçambique (Delpaz) estão a ser abertos furos de água, além de delimitação de espaços de habitação e campos agrícolas que serão distribuídos entre os ex-guerrilheiros regressados em Tambara.

“O que a União Europeia, o Governo e todos os parceiros de cooperação querem fazer é trazer paz através de ações concretas, portanto, a agricultura e diversificação económica são os pontos mais importantes desta componente que hoje estamos a lançar”, concluiu Paolo Sertoli, na entrega de insumos agrícolas e fontes de água em Muira.

Por sua vez, o administrador do distrito de Tambara, Pita Doa, destacou ser preciso preservar a paz, apesar de todas as adversidades encontradas no regresso a vida civil dos ex-guerrilheiros do maior partido da oposição em Moçambique.

“Agora precisamos concentrar para combater o nosso único inimigo, que é a fome”, vincou Pita Doa, lembrando que o encerramento da última base na Gorongosa foi o avanço mais preciso para o fim das hostilidades militares em Moçambique.

A ultima base da Renamo, depois de 30 anos como base da antiga guerrilha, foi encerrada a 15 de Junho, ponto fim à terceira fase do processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração Social (DDR) social que abrangeu os últimos 348 do total de 5.221 guerrilheiros que permaneciam nas bases em zonas remotas.