CHIMOIO - Moçambique é um dos cinco países africanos mais atingidos pelas ações do Estado Islâmico, grupo radical que expandiu as suas atividades entre Janeiro a Junho de 2024, revela um novo estudo do Instituto de Pesquisa de Mídia do Médio Oriente.
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O estudo “O Estado Islâmico e a Perseguição aos Cristãos na África” , com dados referentes aos ataques protagonizados por elementos do Estado Islâmico contra instituições cristãs e assassinatos de pessoas que professam a religião cristã, diz que Moçambique ocupa a terceira posição na lista de cinco países mais afetados pelo terrorismo em Africa.
“Os países mais afectados pelo Estado Islâmico de Janeiro a Junho tem sido a Nigéria, Republica Democrática de Congo (RDC), Moçambique, Camarões e Mali, onde o grupo terrorista atua por meio de varias divisões”, lê-se no estudo.
Veja Também Terrorismo em Moçambique: Nampula pode ser a nova frente do jihadismo, analistasNo primeiro semestre de 2024, diz o documento, o Estado Islâmico reivindicou a morte de 698 cristãos africanos. “Esse número ilustra a gravidade da situação e a brutalidade dos métodos empregados pelo grupo, uma vez que, entre essas vítimas, 319 foram decapitadas e 379 mortas a tiros”. A Nigéria e a RDC tiveram as maiores baixas de cristãos.
De acordo com o estudo, “a província do Estado Islâmico de Moçambique (ISMP), divisão formada em 2019, matou 29 cristãos, sendo cinco deles por decapitação. Além disso, o grupo incendiou 939 casas, 21 igrejas e 12 escolas, causando enorme destruição e terror nas comunidades locais.”
Nova fase do terrorismo
Reagindo ao estudo, vários analistas moçambicanos alertam que o país entrou para a terceira dimensão do terrorismo.
A investigadora e professora universitária, Liazzat Bonate anota que vários militantes do Estado Islâmico, que atuaram na RDC mudaram para Moçambique, aproveitando a nova onda migratória sul-sul, que permitiu a expansão das operações do ISIS em África, depois do enfraquecimento militar no Medio Oriente.
Já Muhamad Yassine, especialista em terrorismo internacional, entende que a insurgência em Cabo Delgado entrou para uma nova fase, estando os grupos terroristas ocupados com a conquista das populações e não na guerra, depois de um início agressivo “para impor o medo e o terror”.
“Nós estamos agora a entrar para a terceira fase, que é de estabilizar as comunidades conquistadas e torná-las a favor da insurgência contra o governo, e isto está a acontecer”, afirma Yassine.
O também politico e académico moçambicano defende que as revoltas populares em Cabo Delgado, devem ser entendidas como uma nova fase do terrorismo.
Veja Também Cabo Delgado: MDM defende o diálogo como forma de eliminar o terrorismo“Se for a reparar, ainda na semana passada, em Mocímboa da Praia a população se revoltou contra a presença das forças ruandesas nas suas casas, mas já no ano passado, as forças ruandesas eram as salvadoras. A População passou a rejeitar há duas semanas atrás o mercado e a escola construída pela força ruandesa que era oferta”, anota Yassine.
Por sua vez o sociólogo moçambicano João Feijó entende que o terrorismo conseguiu “de alguma forma substituir o papel de estado e criar zonas de influência, criar as suas zonas pseudolibertadas, no sentido em que começa a garantir algum controlo social da população”.
Feijó, que é coordenador do Observatório do Meio Rural, entende que as autoridades precisam de estudar uma nova forma de lidar com a atual fase, no lugar de minimizar a atuação dos terroristas.
“É preciso entender que não vai ser com vinagre que se apanham moscas, mas através de estratégias mais doces. Será conquistando a população, conquistando os corações da população, que vamos conseguir inverter a situação,” diz.
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