Analistas divergem relativamente à informação do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, sobre o terrorismo em Cabo Delgado e à intervenção de forças estrangeiras naquela província, uns afirmando que não aborda as causas do conflito e outros considerando que foi bastante exaustiva.
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Num discurso de cerca de uma hora, Nyusi falou da crise humanitária desencadeada pela violência armada, sobretudo do ponto de vista humanitário, traduzida em mais de 800 mil deslocados, para além da paralisação do projecto de gás natural em Palma.
Veja Também Filipe Nyusi diz que Moçambique entrou na fase crucial de combate ao terrorismoO sociólogo João Feijó diz que o discurso do estadista moçambicano tem como objectivo elogiar o desempenho do seu Governo na gestão deste fenómeno, mas pensa que não vai ao cerne da questão.
"Não explica a complexidade do problema, que envolve não só a penetração de grupos radicais e violentos com discurso religioso, mas também a capacidade que eles têm de capitalização, para fins militares, do descontentamento da população local em relação ao Estado", realçou.
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Por seu turno, o analista Lucas Ubisse defende que o discurso do Presidente da República deve ser entendido "apenas em torno da sua estratégia política de moralizar a opinião pública de que as forças de defesa e segurança estão a ganhar terrerno e os terroristas estão a recuar, porque no terreno, a situação não mudou muito".
Contudo, para o analista Manuel Guilherme, o discurso do Presidente Nyusi foi bastante exaustivo e até desfez alguns enigmas relativamente à intervenção de forças da SADC e do Ruanda no conflito em Cabo Delgado.
Veja Também Chegada de tropas do Ruanda a Moçambique pode ter surpreendido os "jihadistas", dizem analistasNyusi afirmou que a força ruandesa está em Moçambique ao abrigo do acordo bilateral entre os dois países, enquanto a força da SADC tem enquadramento jurídico no Tratado da Defesa Mútua da região e no protocolo de cooperação nas áreas de política, defesa e segurança.
Comando da força
Entretanto, o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, Joaquim Mangrasse, afirmou que a questão do comando da força da SADC ficou mais clara, e esclareceu que "a África do Sul, que terá a maior força, é que vai comandar essa força" .
Para o analista José Timba, "isto significa o reconhecimento da capacidade militar da África do Sul, e também do facto de que este país, ao nível da SADC, é aquele que tem as instituições mais sólidas, o que é fundamental em questões de natureza securitária".
Esta segunda-feira, 26, o ministro tswana da Defesa, Justiça e Segurança, Kagiso Mmusi, anunciou que 296 soldados do Botswana, vão partir para Moçambique, a fim de se juntarem à força em estado de alerta da SADC. Acredita-se que Angola e Tanzania façam também parte dessa força.
Na cerimónia de despedida, o Presidente do Botswana salientou que o envio do contingente tswana se enquadra no cumprimento da agenda de paz da região da SADC e visa apoiar Moçambique a combater a ameaça terrorista e os actos do extremismo violento em Cabo Delgado.
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